São Paulo, segunda-feira, 4 de julho de 1994
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Kevin engrossa a voz em "Anos Incríveis"

RICARDO CALIL
EDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"

Kevin engrossa a voz em 'Anos Incríveis'
O protagonista da série americana volta com 16 anos nos episódios inéditos que a Cultura exibe a partir de hoje
Programa: Anos Incríveis
Rede: Cultura
Quando: segunda a sexta, às 20h, sábado e domingo, às 19h30
Trilha: "With a Little Help from my Friends" (Joe Cocker), "Brown Eyed Girl" (Van Morrison), "Get Together" (Indigo Girls), "Peace Train" (Richie Havens), entre outras

Depois de três meses de reprises, a saga do adolescente Kevin Arnold, herói de "Anos Incríveis", volta ao ar em capítulos inéditos. Começa hoje, na Rede Cultura, a terceira fase da série, com os 20 capítulos finais dos 95 produzidos entre 1988 e 1993.
"Anos Incríveis" deve ser acompanhada como uma "soup opera". Ou seja, o tempo da ação na tela reproduz, com certa fidelidade, o tempo da vida real dos atores.
Assim como em "Dinastia" podíamos contar, no decorrer dos anos, as plásticas de Joan Collins, em "Anos Incríveis" acompanhamos as transformações de Kevin e também de seu intérprete, Fred Savage. Mudanças que foram aceleradas pela puberdade e pela Cultura, que exibiu os cinco anos da série em um.
Nesta terceira fase, pouco mudou. A nova abertura apresenta uma colagem de imagens dos anos 60, época em que se desenvolve a história. Com 16 anos, no segundo colegial, Kevin agora tem emprego e carro, engrossa a voz (inclusive na dublagem), olha seu irmão mais velho Wayne de cima, e, como afirma no segundo episódio desta fase, suas maiores preocupações são sexo e dinheiro no bolso.
Mas, assim como o namoro de Kevin com Winnie Cooper, as qualidades da série resistem ao tempo –o roteiro inventivo, a direção simples e eficiente, a trilha sonora "freak", o carisma do protagonista, os temas universais e, acima de tudo, o tratamento original das angústias juvenis.
A antiga abertura da série, com flashes da infância de Kevin com a família, a namorada e os amigos, revelava o fundamento básico de "Anos Incríveis" –uma viagem nostálgica e sentimental do protagonista.
A fórmula conquistou os espectadores, levando a série aos primeiros lugares de audiência da Cultura, com uma média de oito pontos. "Anos Incríveis" agrada, com a mesma intensidade, pais e filhos. Enquanto os adolescentes se identificam com as desventuras do garoto Kevin, seus pais se colocam sob o ponto de vista do Kevin-adulto, narrador em "off" dos episódios.
Uma pesquisa realizada este ano já apontava esse microfenômeno –grande parte dos entrevistados assistem a série com seus filhos.
Apesar de ser uma solução em termos de audiência, o fato encerra também o principal problema da série. A princípio, deve haver algo de estranho em um programa que reúne pais e filhos em frente à TV sem causar qualquer tipo de constrangimento, o que certamente não seria possível em "Os Simpsons".
Kevin Arnold adota, na maior parte do tempo, uma postura de crítica complacente, ao contrário, para retomar o exemplo, do estilo arrasa-quarteirão de Bart Simpson.
"Anos Incríveis" situa a adolescência como a fase da quebra de expectativas, da desilusão, e não dos questionamentos. Daí seu tom um tanto melancólico.
Os episódios da série costumam terminar com uma espécie de moral da história, uma lição de vida para o protagonista. Apesar disso, não deixa de ser tocante, enternecedor e, às vezes, até lacrimoso lembrar que seu velho tem lá suas qualidades, que não vale a pena trair a namorada, ou que seu amigo "cdf" vale mais que um bando de cabuladores de aula.
Ou, como no primeiro episódio desta fase, que o amor pode sobreviver aos compromissos do casamento. Nas palavras de Kevin:
"Depois de anos de brigas por torradas queimadas e cheques sem fundo, podemos, por um breve momento, olhar um para o outro como fazíamos antes; antes que os filhos, a hipoteca e a rotina conspirassem contra nós."
Afinal, tudo isso parece mais próximo da realidade que macaquices de auditório, loiras aeróbicas e desenhos sarcásticos.
P.S.: ainda no primeiro episódio desta fase, que vai ao ar hoje, repare como a cena final merece figurar nas antologias dos momentos iluminados da TV, digna de um "Quanto Mais Quente Melhor".

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