São Paulo, segunda-feira, 4 de julho de 1994
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Gaza é um dos locais mais pobres do mundo

SÉRGIO MALBERGIER
DO ENVIADO ESPECIAL

A faixa de Gaza continua sendo um dos lugares mais miseráveis do mundo. O lixo continua sem coleta, o mau cheiro ainda domina as ruas, cerca de metade da população ainda está desempregada.
Mas, desde a retirada das tropas israelenses em maio passado, seus moradores encontram motivos para se alegrarem em meio a problemas que parecem insuperáveis e insuportáveis.
"A situação melhorou muito. Agora nós podemos sair à noite, temos nossa própria polícia e não somos mais humilhados", disse à Folha o barbeiro Abel Zayna, 26, em sua barbearia enfeitada com bandeiras e fotos de Iasser Arafat.
Desde a saída dos israelenses e o fim do toque de recolher imposto por eles ao anoitecer, a população de Gaza conseguiu relaxar.
A praia, evitada durante os anos de ocupação, agora se tornou um dos centros da vida social da cidade. "Não havia motivos para irmos à praia antes", diz Zayna.
A faixa de Gaza tem apenas 40 km de comprimento e de 6,5 km a 14 km de largura. Lá vivem cerca de 1 milhão de palestinos, quase a metade em inóspitos campos de refugiados.
Afundada no mar
A renda per capita de Gaza é de cerca de US$ 850. Na Cisjordânia, ela chega a US$ 1.700 e, em Israel, vai a US$ 12.000.
O premiê israelense, Yitzhak Rabin, disse no ano passado que queria que Gaza "afundasse no mar".
O chanceler Shimon Peres escreveu em seu livro sobre o processo de paz: "Gaza tem 7 mil anos, 7 mil anos de sofrimento".
Mesmo políticos de direita como o ex-premiê Yitzhak Shamir defendiam a retirada de Gaza.
Para a grande maioria dos israelenses, deixar a região foi se livrar de um lugar que, ao contrário da Cisjordânia e das colinas de Golã, não têm valor estratégico relevante, onde seus soldados eram apedrejados constantemente por crianças de até cinco anos.
Nos últimos meses da Intifada (revolta palestina iniciada en Gaza em 87), eram alvo de ataques com armas de fogo quase diários.
Iasser Arafat começou seu dia ontem inaugurando uma fábrica de processamento de cítricos em Gaza.
Ele sabe que quando a recém-conquistada liberdade deixar de ser novidade, a entidade palestina vai ter que mostrar sinais de melhoria na vida dos moradores de Gaza.
Sem isso, será difícil manter a popularidade quase unânime que por hora conseguiu retrair a força do fundamentalismo islâmico contrário ao processo de paz.
Por enquanto Arafat e a OLP estão ganhando terreno. Logo após a assinatura do acordo de paz Israel-OLP em setembro passado, a oposição palestina às negociações com Israel pediu que seus simpatizantes colocassem bandeiras negras nas janelas.
Mesmo na época, praticamente só as mesquitas atenderam o pedido. Agora, até nas mesquitas se pode ver a bandeira palestina e fotos de Arafat. (SM)

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