São Paulo, segunda-feira, 4 de julho de 1994
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As metas monetárias

Uma das novidades da medida provisória que criou o real está no estabelecimento de limites para a emissão da nova moeda. A fixação de metas para a expansão monetária em um programa antiinflacionário possui uma lógica conhecida. Supondo que a inflação seja um problema de excesso de emissões, deve-se cuidar para que a nova moeda esteja sob controle.
Ainda que de grande validade, entretanto, essas metas não são fáceis de cumprir. A quantidade de moeda na economia cresce principalmente quando há déficit do Estado, pois o governo emite para cobrir seus rombos. Desse modo, o preestabelecimento dessas quantidades é um importante freio aos gastos públicos. O mercado e a população podem fiscalizar com maior rigor o comportamento do governo, já que existem metas concretas a serem obedecidas.
Como fatores adicionais, ocorrem pressões por crescimento da base monetária quando o público deseja reter mais dinheiro no bolso, devido à inflação baixa. O crescimento pode ocorrer também se muitas empresas e agentes desejarem trazer dinheiro do exterior para dentro do país, atraídas pela grande diferença entre os juros internos, previstos no atual programa de estabilização, e os do mercado internacional. Neste caso, esses agentes vendem os dólares para o Banco Central e este se vê obrigado a emitir reais em troca (os quais depois ele tenta comprar de volta, vendendo títulos da dívida pública).
O grande desafio ao se estabelecerem metas para a emissão logo no início de um plano antiinflacionário é que as estimativas são precárias, pois não se sabe, ainda, qual será realmente a demanda de moeda num ambiente de baixa inflação.
Mesmo assim, é inegável que a fixação de limites à emissão dá credibilidade à nova moeda. Resta saber se o objetivo será alcançado. Pois para não emitir é necessário gastar apenas o que se arrecada, e isso demanda esforços muito maiores do que o simples estabelecimento de metas. O sucesso ou o fracasso do esforço de estabilização depende em grande parte, portanto, do comportamento do próprio governo.

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