São Paulo, terça-feira, 5 de julho de 1994
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Brasil teve uma vitória constrangedora

MATINAS SUZUKI JR.
ENVIADO ESPECIAL A PALO ALTO

Meus amigos, meus inimigos, ufa!, o Brasil escapou de dar o seu maior vexame na história das Copas do Mundo. Foi uma vitória constrangedora de um time medíocre e sem imaginação.
Um futebol sem personalidade e medroso. O Brasil, pasme, contra um dos adversários mais fracos das oitavas, contribuiu para baixar a média de gols nesta fase do torneio.
Bora Milutinovic não se intimidou e preparou um time que joga ajustadinho para enfrentar o Brasil sem retrancas. Cumpriu exemplarmente o seu papel.
Temos agora a Holanda. É o adversário mais perigoso que a seleção jogará.
Tem um meio-de-campo lento como o nosso. Mas tem um bom ataque. Na teoria, será um jogo mais aberto, embora Koeman conheça bem Bebeto e Romário e fará sugestões para a marcação.
É um jogo que poderá exigir criatividade do time brasileiro. E mais velocidade.
Até agora, duas mercadorias em falta no time de Carlos Alberto Parreira.
A Argentina saiu anteontem do Mundial em Los Angeles por causa de um jogador dopado. Um grande filósofo alemão já discorreu sobre o crepúsculo que pode atingir os deuses.
Os anjos do nome daquela cidade ficam perto dos deuses da mitologia moderna, o cinema. Os anjos ficam ao lado do Éden: Hollywood. Um lugar no mundo que conhece bem os deuses malditos.
Maradona tentou construir a sua volta como queria voltar a atriz do filme "Sunset Boulevard" (nome da mais bela rua daquela cidade). Os dois encontraram o fim nesta Meca da mitologia moderna.
Maradona, o maior jogador portenho (o que não é pouco), o segundo no mundo depois de Pelé, o único a ganhar uma Copa sozinho, pode ser "escobarizado" (no sentido metafórico, é claro) em seu país.
Foi chamado de "cachorro" pela torcida. Nós, os passionais abaixo do Rio Grande, somos pródigos em expiar as nossas culpas. Desde que se ache um grande e único culpado.
Nas Copas, principalmente nas etapas finais, qualquer detalhe pode ser fatal. Em um campeonato normal, 48h podem ser consideradas suficientes para a recuperação de um time. Em Copa, não.
A Bélgica, até o último minuto da classificação, era a primeira colocada do grupo. Perdeu e ficou em terceiro. Foi para Chicago jogar 48h depois. Não contava nem com um nem com outro. Está fora.
Com a Argentina ocorreu a mesma coisa. Era a primeira. Teve o caso Maradona. Perdeu a cabeça. Perdeu o jogo para a Bulgária. Ficou em terceiro. Não contava jogar em Los Angeles, 48h depois.
Também está fora. Enquanto isto, a Alemanha cumpriu o seu planejamento. E teve oito dias para recuperação do time e para esperar o adversário, que sai do jogo do México contra a Bulgária.
Em Copa, os deuses (crepusculares ou não) também estão nos detalhes.
*
"Era mas dificil botar-lo do que meter-lo".

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