São Paulo, quarta-feira, 6 de julho de 1994
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Aulas

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

E vem aí o ministro Rubens Ricupero, outra vez, na TV. Como não consegue reagir contra os preços de forma direta, com atos administrativos, ele segue tentando a mobilização. Melhor, segue tentando tornar os brasileiros em consumidores e o Brasil em mercado.
Na Globo, ontem, ele argumentava que "é importante voltar à televisão para mostrar que a população deve cooperar, comparando preços, evitando comprar daqueles que estão abusando, procurando denunciar os abusos e até adiando compras que não sejam necessárias, neste momento".
Quer dizer, o que o professor Rubens Ricupero anda fazendo na televisão, com seus seguidos pronunciamentos, é dar aulas de mercado. Não é a defesa de um "boicote ao preço alto", como disse a Globo, mas quase um curso para ensinar o que é a lei da oferta e da procura.
Ao que parece, o presidente da República aprendeu a lição, afinal. De acordo com a Globo, "Itamar Franco reconheceu que o governo não tem como controlar os aumentos de preços". Na frase literal do presidente, "não temos mecanismos". A exemplo do ministro, ele pede "o apoio da população".
Pergunte ao prefeito
O presidente Itamar Franco está aprendendo a confiar nas leis do mercado, mas ainda não aceitou o aumento dos ônibus –setor que o governo chegou a citar como oligopolizado, ou cartelizado, na primeira hora. Ontem na TV, entrou no ar uma propaganda institucional que vai além, na pressão.
Usando como desculpa um fundo educacional que é repassado pelo governo federal para os municípios, a propaganda cita com destaque a cidade de São Paulo entre as favorecidas. E fecha com a recomendação: "Você tem direito de saber como a prefeitura gasta o dinheiro. Pergunte ao prefeito."
Pare de sofrer
Na rádio Record a coisa é mais ostensiva. Mas também na televisão o suposto bispo Edir Macedo dá um jeito de passar sua mensagem, por assim dizer. O dono da Igreja Universal do Reino de Deus tem jogado no ar uma convocação geral para a "fogueira santa de Israel" –nas suas várias filiais.
"Pare de sofrer", promete o texto da propaganda. Entre as orações programadas, tem a das "Minas do Rei Salomão". É a "oração dos dizimistas".

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