São Paulo, quarta-feira, 6 de julho de 1994
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Erro eleva em 20 mil vezes valor de emenda

LUCIO VAZ E DENISE MADUEÑO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Erros de digitação cometidos pelo Prodasen (Centro de Processamento de Dados do Senado) elevaram os valores de emendas ao Orçamento da União, em alguns casos, em até 20 mil vezes.
Os erros aparecem nos documentos que a Comissão Mista de Orçamento distribui aos próprios parlamentares e à imprensa.
Os relatores poderão cometer erros se acatarem emendas com base neste material.
Em consequência dos erros, a soma do valor das emendas de todos os parlamentares chega a CR$ 6,72 trilhões (US$ 234,4 bilhões), o que corresponde a quase duas vezes a dívida externa brasileira (US$ 135 bilhões).
Um dos casos mais graves ocorre numa emenda do deputado Eraldo Tinoco (PFL-BA). Ele apresentou uma emenda no valor de CR$ 15 milhões (US$ 522 mil).
Nos documentos da Comissão Mista, a emenda tem o valor de CR$ 310 bilhões (US$ 10,8 bilhões). Isso corresponde a 20 mil vezes o valor original.
Os erros identificados pela Folha mostram que continua havendo falhas na elaboração do Orçamento da União. A pressa na sua aprovação e a falta de estrutura da Comissão deixam margem para erros e fraudes.
O diretor da Assessoria de Orçamento da Câmara, Francisco Schettini, reconhece que houve falha na digitação.
Esta correção futura não impede, porém, o desgaste político dos parlamentares. Pelos números divulgados pela Comissão, eles teriam apresentado emendas com valores superestimados.
Os documentos da Comissão Mista indicam, por exemplo, que o senador Amir Lando (PMDB-RO), relator da CPI do PC, apresentou emendas num valor total de CR$ 196,8 bilhões (US$ 6,8 bilhões).
A Folha constatou erro de digitação em 14 das 25 emendas de Lando. Refeitos os cálculos, o valor total ficou em CR$ 4,9 bilhões (US$ 173 milhões). Os valores foram aumentados 39 vezes.
Na maioria dos casos, os valores das emendas de Lando tiveram dois zeros acrescidos. Num dos casos, foi acrescentado o algarismo 1 na frente do valor original.
A Folha apurou dezenas de erros nos documentos da Comissão Mista. Um grupo de dez parlamentares teria apresentado emendas num valor de CR$ 2,6 trilhões (US$ 91 bilhões).
Na maioria dos casos, o valor de suas emendas foi acrescido de três zeros.
Schettini disse que os erros não foram corrigidos porque isso atrasaria os trabalhos da comissão
O diretor-executivo do Prodasen, Marco Antônio Reis, disse à Folha que os erros de digitação superam o "limite aceitével" de 3%. Disse que não há risco de fraude.
Reis afirma que a Assessoria de Orçamento vai conferir no documento original de apresentação da emenda o valor de cada proposta.
Não serão feitas correções nos documentos do Prodasen porque não há tempo, afirmou Reis.

Colaborou DENISE MADUEÑO

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