São Paulo, quarta-feira, 6 de julho de 1994
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Oficinas prolongam vida dos tênis

ALESSANDRA BLANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

Trocar a sola, refazer as costuras, colocar uma nova biqueira e dar uma pintura ao velho tênis tem sido a solução encontrada para quem não pode pagar até R$ 200,00 por um novo par a cada dois ou três meses.
As oficinas de reforma de tênis prometem entregar o artigo "praticamente" novo e com uma resistência para, pelo menos, mais três meses de uso.
Eles fazem de tudo, trocam solados, colam, costuram, mudam o náilon, couro ou camurça, fazem um novo forro, lavam, pintam, trocam biqueiras, palmilhas, línguas e cadarços.
Alguns chegam a aumentar e diminuir o tamanho (leia texto abaixo). Enfim, desmontam e montam o tênis novamente.
O preço da reforma geral de um tênis de couro pode custar, no máximo, R$ 85,00.
Na loja Shoe Biz do West Plaza, o tênis mais barato (um Le Coq Sportif de náilon) sai por R$ 29,99 e, o mais caro (Nike de couro), R$ 212,99.
Segundo o proprietário do Pronto-Socorro do Tênis, Marcio Salzman, 47, quando o tênis é de qualidade, a reforma vale a pena.
"Não trabalhamos com pano ou lona porque a reforma é difícil e esses tênis são muito baratos", disse. "Nesses casos, a reforma não compensa."
O Pronto-Socorro do Tênis recebe entre 200 e 250 pares por dia para a reforma. O Salva Tênis chega a receber até 300 pares a cada dia.
As oficinas também podem ser encontradas em shoppings (como o Eldorado e o West Plaza). O único desconforto é que a reforma pode demorar até 20 dias, não é um serviço feito na hora.
Office boys
"Os office boys vêm muito aqui porque gastam o salário inteiro para comprar um tênis em até quatro pagamentos e, depois, não podem comprar outro e são obrigados a reformá-lo. Chegam a fazer três a quatro reformas", disse.
Segundo Juan Carlo Tapia Fleming, 28, pintor da Salva Tênis, a maioria de seus clientes são "sentimentais".
"Eles gostam daquele tênis, por mais velho que seja. Então, para que possam continuar usando, vão fazendo várias reformas, até que não tenham mais condições e sejam obrigados a jogar o par no lixo", disse.
Alexandre Eduardo de Souza, 18, pintor da S.O.S. Tênis, diz que 90% dos tênis que recebe para a reforma são importados.
"As pessoas gostam de tênis importados, mas são muito caros e, de tanto limpar, acabam desgastando, então elas trazem aqui e pedem para deixar o mais próximo possível do original. Nós tentamos deixar como novo", diz.
O engenheiro cartógrafo Ricardo de Miranda Kleiner, 32, já reformou seu tênis esse ano pela segunda vez.
Kleiner é corredor e diz que seus pares de tênis estragam muito rápido.
"Destruo um tênis a cada seis meses. Com a reforma, ele é capaz de durar mais três meses e cada tênis aguenta até três ou quatro reformas", disse.
Além disso, a reforma razoável, de acordo com o engenheiro, pode ser feita com menos de R$ 15,00, enquanto um tênis novo "não sai por menos de R$ 36,36".
"Eu já tinha pensado em reformar, mas ia deixando passar, o tênis ficava cada vez mais velho e eu acabava jogando fora. Agora, com a reforma, o tênis sai novo, eu uso pelo menos o dobro do tempo e não dá para sentir nenhuma diferença."
Chulé
Nem todo tipo de conserto é feito nos prontos-socorros de tênis. Toda reforma depende muito de seu estado geral.
"Tem gente que chega aqui com alguns pares de tênis que não dá nem para chegar perto, não tem condições de reforma, está todo rasgado, sujo e cheirando mal. Nós não aceitamos tênis com mal cheiro", diz Fleming.

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