São Paulo, quarta-feira, 6 de julho de 1994
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Bill Clinton peita o Papa e manda chumbo

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Inspirada no presidente Clinton, resolvi abrir uma conta no Bradesco destinada a doações de leitores interessados em custear minhas férias nas ilhas gregas.
O que é que tem de mais? Se o presidente dos Estados Unidos, que é o presidente dos Estados Unidos, pode abrir um fundo privado com o objetivo de receber doações para pagar despesas com advogados nos casos Whitewater e Paula Jones (que o acusa de assédio sexual), por que é que eu não posso angariar fundos para passar férias no mar Egeu?
Esse Bill Clinton é danado. Como se não bastasse ter tentado ganhar um troco no caso Whitewater e ter bolinado a Paula, ele agora vem com essa de fundo de doações.
Mas não é que, pasme, a despeito de tantas pisadas na bola, o presidente dos EUA arrisca entrar para a história como grande estadista?
Bill Clinton, um grande estadista? O quê? Clinton, aquele que se fez de miguel diante da matança de muçulmanos na Bósnia por não ser do seu interesse ver florescer uma nação islâmica no coração da Europa?
Calma, eu explico: Billy boy é o primeiro peso-pesado a peitar a igreja católica em uma questão fundamental, o controle da natalidade.
Ninguém deu muita atenção, mas, semana passada, ele fez um importante discurso na Academia Nacional de Ciências de Washington.
O presidente dos EUA afirmou que vai apoiar a prática do aborto e o direito ao controle da natalidade.
Whitewater lembra Watergate. Pois a cada dia que passa, Clinton fica mais parecido com outro grande estadista: Richard Milhous Nixon. No futuro, ambos podem ser lembrados pelas razões erradas.
Sobre Nixon, até mesmo a respeitabilíssima "Enciclopédia Britânica" omite o essencial: ele não entrou para a história somente por Watergate ou pelos êxitos na política externa.
Em 1971, Nixon suspendeu a conversibilidde do dólar em ouro, eliminando o câmbio fixo e, consequentemente, abrindo uma nova era no comércio internacional.
Mereceria ter estátuas em sua homenagem erguidas em todas as esquinas dos EUA.
Se Clinton conseguir dar seu recado ao Vaticano, por mim, sua cara de W. C. Fields seria perpetuada ao lado das milhares de estátuas de Nixon.

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