São Paulo, quarta-feira, 6 de julho de 1994
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Duas metades incompletas

LUÍS NASSIF

Na entrevista concedida ao repórter Antonio Carlos Seidl, o economista norte-americano, Rudiger Dornbush, sintetizou a preocupação básica dos analistas isentos em relação às próximas eleições presidenciais.
Tem-se dois "brasis": o feudal e o moderno. Não há política econômica que produza crescimento e justiça social se não se administrar a ambos.
Numa ponta, melhorando o ambiente econômico, estimulando as empresas a investirem, gerando emprego e desenvolvimento e implantando a última das grandes reformas econômicas –uma reforma fundiária modernizante e organizada, que reproduza no Nordeste os milagres paranaense e catarinense.
Na outra, promovendo um corte radical no modelo de Estado, visando discipliná-lo, submetê-lo a um amplo controle social e voltá-lo exclusivamente para o atendimento das questões básicas da população.
Um dos favoritos –Lula– promete mudar o Brasil feudal, mas não tem a menor preocupação, nem conhecimento do Brasil moderno. O segundo favorito –Fernando Henrique Cardoso– promete atender o moderno, desde que não signifique enfrentar o feudal.
Se não houver uma enorme pressão da opinião pública, nenhum dos dois –nem seus concorrentes– parece apto a produzir o grande corte modernizante, capaz de tirar o país do subdesenvolvimento, transformando-o em uma sociedade moderna e justa.
Candidatos incompletos
A Presidência com Lula terá a virtude de estabelecer sistemas mais transparentes de controle sobre as contas públicas –se o modelo de orçamento participativo de prefeituras como Porto Alegre, Vitória e outras, se impuser sobre a linha de ação dos xiitas.
Haverá barateamento e maior controle nas licitações públicas, abrindo espaço para uma geração de fornecedores mais eficiente e honesta. É até possível que se estabeleçam políticas relativamente eficientes para promoção de pequenas e médias empresas.
Mas corre-se o risco de explodir as contas do governo para cumprir promessas de campanha e estufar a estrutura estatal, para aplacar as pressões de seus aliados políticos.
Se lançar o Brasil moderno na crise, Lula não terá a menor condição de enfrentar a grande batalha de enquadramento do Brasil feudal.
Da parte de FHC pode-se esperar avanços naquilo que depender do Ministério da Fazenda –principalmente se for entregue a pessoas comprometidas com mudanças, como o deputado José Serra.
É possível que se definam princípios mais claros de política industrial, e haverá maior disciplinamento das contas públicas. É provável também que, a partir da ala cearense, se promovam avanços nos organismos de desenvolvimento regional.
Mas o que ocorrerá quando se tiver que reformar a estrutura social do Estado, instrumento das mais profundas distorções? Ou o sistema de incentivos fiscais regionais? Como FHC arbitrará disputas inevitáveis entre ministérios gastadores-fisiológicos e seu ministro da Fazenda? Ou conflitos de interesse com setores poderosos da economia, quando houver necessidade, sabendo-se de sua incapacidade de resistir a pressões e de sua falta de critério para escolher aliados?
Há um vazio político enorme, muito maior que a envergadura dos candidatos.
Mesquinharia
A maneira como os dirigentes do jornal do PT "Linha Direta" está tratando o deputado José Genoíno é vergonhosa. É pequena, mesquinha, moleque, uma provocação estudantil –e isto no órgão oficial do partido que poderá tomar o poder em janeiro.

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