São Paulo, quarta-feira, 6 de julho de 1994
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Revolta ameaça Brasil na 3º fase

LEANDRO LOYOLA
DA REPORTAGEM LOCAL E DO NP

Revolta ameaça Brasil na 3ª fase
Quarto jogador a reclamar do esquema, Muller diz a Parreira que "assim não vai dar para ganhar nada"
Um princípio de revolta ameaça a preparação do Brasil para o jogo contra a Holanda, sábado às 16h30 (horário de Brasília) em Dallas, pelas quartas-de-final da Copa.
O esquema tático do treinador Carlos Alberto Parreira está sendo criticado duramente por alguns jogadores.
As TVs mostraram anteontem a discussão entre o atacante Muller e o treinador após a partida em que o Brasil venceu os EUA por 1 a 0. Os dois gritavam e gesticulavam.
Segundo especialistas em leitura labial, Muller teria dito a Parreira: "Assim não vai dar para ganhar nada, porra! Tá todo mundo em cima de nós."
O vídeo com a cena da discussão foi analisado duas vezes. Da primeira participaram quatro especialistas da Escola Municipal Especial para Deficientes Físicos Hellen Keller, na Aclimação.
Além da reclamação de Muller, elas ainda apontam a resposta de Parreira: "Tá bom. Não tá certo. Eu sei o que estou fazendo".
Uma das professoras, Palmira Barranqueiro, 34, –as outras três pediram para não ser identificadas– analisou novamente o vídeo com Denise Jung Sperotto, que trabalha com crianças surdas em Foz do Iguaçu (PR).
Segundo as duas, Muller ainda teria dito ao técnico: "Nenhum dos dois, porra! Não dá certo. Corta direito, porra!" Parreira, na interpretação de Denise, teria respondido: "Não é assim, não".
Muller teria replicado: "Eu sei que tá tudo errado, mas é assim mesmo, porra! Foda-se!" O atacante então virou-se, abraçando Raí e beijando Dunga na testa.
Palmira e Denise têm problemas auditivos desde a infância. Há dez anos trabalham com o ensino de crianças surdas-mudas.
Muller não é o único a criticar o esquema. Após o jogo contra os EUA, Romário disse que o Brasil jogou um futebol "pobre".
O atacante ainda afirmou que, tecnicamente, a seleção "precisa melhorar muito, se não quiser passar pelo mesmo sufoco de novo".
Parreira classificou como "perfeita" a atuação da equipe frente aos EUA e disse que o jogo foi difícil, mas não um "sufoco".
Antes mesmo da partida contra os EUA, Zinho e Raí já haviam conversado com Parreira. Os dois reclamaram da função que eram obrigados a exercer em campo.
O próprio Zinho contou como teria sido sua conversa com Parreira. "Eu disse: 'Professor, estou me sentindo meio preso ali no esquema. Percebo que não estou bem, mas posso jogar mais'."
Raí, sacado para o jogo contra os EUA, pediu para o treinador mais liberdade para atacar e inverter de posição com Zinho.
Parreira, segundo Zinho, teria dito que "todos têm liberdade quando estão com a bola". Mas o técnico cobra que cada jogador desempenhe sua função defensiva.
"Aí fica difícil. Eu caio para o meio ou para a direita e na hora em que eu perder a bola vou ter que voltar imediatamente para a esquerda", reclama Zinho.

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