São Paulo, quarta-feira, 6 de julho de 1994
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Prêmios são 'salvação' de jovens cineastas

ANTONINA LEMOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Quem pensa que não existe cinema no Brasil se engana. Um grande número de curtas-metragens é produzido por ano no país. E o que é melhor, muitos deles são feitos por jovens.
Para se ter uma idéia, só no ano passado a Secretaria de Cultura de São Paulo contemplou, através do Prêmio Estímulo, 36 diretores.
O Estímulo dá uma ajuda de custo de US$ 20 mil para os premiados e é o principal incentivo aos jovens cineastas de São Paulo.
O resultado do Prêmio Estímulo de 94 sai esta semana. Os organizadores adiantam que, dos doze premiados, metade são iniciantes.
O estudante de cinema da USP Daniel Santana, 19, nunca tinha feito um filme, mas ganhou o Estímulo no ano passado e está finalizando o curta "Barra Pesada."
Ele está no terceiro ano de faculdade e nunca tinha trabalhado em uma produção de cinema.
Daniel pretende fazer outros filmes, mas sabe que é difícil. "No Brasil as pessoas não sabem que cinema é uma indústria rentável."
Ele acha que o governo deveria incentivar o cinema nacional. "Não porque os cineastas são o máximo, mas porque o cinema é legal e pode dar dinheiro", diz.
Enquanto não faz um longa-metragem (o sonho de qualquer jovem cineasta), Daniel pretende sobreviver fazendo vídeos institucionais para empresas e comerciais.
Até mesmo a TV –um monstro para cineastas das antigas– é encarada numa boa por Daniel.
"A TV é um veículo muito legal, que atinge um monte de gente, trabalharia em uma TV tranquilamente", diz.
O carioca Felipe Muani, 22, concorda com Daniel. Ele faz vídeos por não ter dinheiro para pagar um filme (veja texto abaixo).
Seu sonho também é dirigir um longa, mas, enquanto isso não acontece, faz um vídeo para concorrer no Festival do Minuto (outro concurso importante para jovens diretores de vídeo).
Felipe já participou do concurso no ano passado e ficou entre os cinco finalistas com o vídeo "Quarto Sujo de Hotel".
Autodidata, ele não quer cursar faculdade de cinema e se sustenta fazendo "story boards" (desenho das cenas que serão filmadas).
Para fazer esse filme (ele vai filmar tudo em película de cinema e depois passar para vídeo para que a imagem fique melhor), Felipe usa sobras de negativo de um amigo e sua equipe trabalha de graça.
Ele acha que o seu jeito de trabalhar serve de exemplo. "Não adianta nada ficar reclamando que não tem espaço para o cinema no Brasil, o jeito é se virar e dar um jeito de fazer."
Ele faz. O dinheiro que ganha com os "story boards" Felipe investe em suas produções.
Philippe Barcinski, 20, estudante de cinema da ECA (Escola de Comunicações e Artes da USP) também acha que há espaço para quem quer fazer coisas legais.
Seu sonho é ser diretor de cinema, mas, hoje, é diretor de TV. Ele está dirigindo um quadro no programa Castelo Rá Tim Bum, da TV Cultura.
Ele está satisfeito. "A linguagem de TV às vezes se aproxima da usada em cinema."

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