São Paulo, quarta-feira, 6 de julho de 1994
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Diretor quer um lugar ao sol em Hollywood

RICARDO CALIL
DA REDAÇÃO

Quando recebeu das mãos de Richard Curtis, há dois anos, o roteiro de "Quatro Casamentos e um Funeral", Mike Newell, 51, não conseguia parar de rir.
"Era tão engraçado que não vinha acompanhado de outras emoções", afirma. Um ano depois, Curtis chegou ao roteiro definitivo, que, a pedido de Newell, ganhou "nuances mais escuras".
O cineasta inglês, diretor de "Dançando com um Estranho" e "Um Sonho de Primavera", recorre sempre às cores para falar de seus trabalhos.
Ele compara a vida dos personagens de "Quatro Casamentos e um Funeral", e a dos ingleses em geral, a um número infinito de tonalidades cinza. "Os americanos, ao contrário, vêem a vida, e meu filme, em preto-e-branco".
Em entrevista à Folha por telefone, de Londres, Newell explica os motivos para o sucesso de seu filme, fala sobre o trabalho com Hugh Grant e Andie MacDowell, e sobre seu novo projeto.

Folha - Como o sr. explica o sucesso de "Quatro Casamentos e um Funeral"?
Mike Newell - É uma conjunção de pequenos fatores. Primeiro, é uma história muito humana, uma comédia do coração, mais do que de situações engraçadas.
É uma comédia sobre como as pessoas se sentem e como seus sentimentos funcionam. Curiosamente, é algo novo para os EUA.
É também um tipo de filme que as pessoas podem olhar para trás e dizer: "Faziam filmes como esse antigamente".
As pessoas gostam de todas as coisas incomuns, como o fato de tudo acontecer em quatro casamentos e um funeral, e o público não saber como essas pessoas são por trás dessas cerimônias.
Além disso, o filme tem um herói que sente as mesmas inseguranças que as pessoas de 30 anos costumam sentir. Ao mesmo tempo, ele é amável, faz rir e encontra o amor de sua vida.
Folha - O sr. não acredita que o filme reforça alguns estereótipos sobre o inglês conservador e o americano progressista?
Newell - Não. Acho que essa é a visão do americano sobre o filme. O inglês se reconhece no filme porque vê a vida como um número infinito de tonalidades cinza.
Os americanos vêem o filme como uma história em preto-e-branco. Os ingleses acreditam que nada é simples, no filme e na vida.
Folha - O filme teve alguma influência de "Para o Resto de Nossas Vidas" e "O Reencontro", que também tratavam do tema da crise dos 30?
Newell - Não vejo similaridades. O roteiro de "Quatro Casamentos" foi escrito antes de "Para o Resto de Nossas Vidas", que é um filme muito pessimista, ao contrário de "Quatro Casamentos e um Funeral".
Folha - Então, quais foram as principais influências do filme?
Newell - "O Pai da Noiva" (a versão antiga, com Spencer Tracy e Elizabeth Taylor), "Bringing Up Baby" e comédias americanas dos anos 30 e 40.
Folha - Qual será seu próximo trabalho?
Newell - Um filme chamado "An Awfully Big Adventure", novamente com Hugh Grant, que representa um papel totalmente diferente. Ele faz um vilão, um homossexual cruel e manipulador.
Folha - O que o sr. acha de Hugh Grant se tornar um "sex symbol" e ser comparado a Cary Grant?
Newell - Cary Grant só tem um. Mas Hugh Grant é imensamente charmoso, uma qualidade que transparece nas telas, tem uma aparência amável e muita sorte. Folha - Como foi a escolha de Andie MacDowell?
Newell - Eu queria alguém muito bonita, com uma bondade escondida. Alguém amável, porque as coisas que ela faz na história poderiam torná-la vulgar.
Folha - Normalmente, quando um diretor britânico faz um grande sucesso, o caminho natural é ir para Hollywood. Esse será seu próximo passo?
Newell - Espero que sim. É muito difícil trabalhar na Inglaterra. "Quatro Casamentos" quase não foi produzido porque leram o roteiro e disseram que era muito caro. Era para ser feito há dois anos, mas não havia dinheiro.
Agora, há cinco ou seis filmes sendo rodados na Irlanda porque o governo de lá ajuda mais que o governo inglês. Meu próximo filme será rodado na Irlanda.
Folha - Por que os cineastas britânicos costumam voltar para a Inglaterra depois dessa experiência americana?
Newell - Porque detestam hambúrguer. Porque querem voltar para um lugar onde estão familiarizados com a cultura.
Mas não há uma regra para isso. Alan Parker volta para cá o mínimo possível. Riddley Scott detesta a Inglaterra. Tony Scott não põe o pé no país há 12 anos. Stephen Frears tem filhos que brincam com os meus e gosta da Inglaterra tanto quanto eu. Cada caso é diferente.
Folha - Depois do sucesso de "Quatro Casamentos", o sr. recebeu convites para dirigir filmes americanos?
Newell - Estou em discussões, mas não posso adiantar detalhes.

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