São Paulo, quarta-feira, 6 de julho de 1994
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Começa o 'Nurembergue' da Itália

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Começou ontem em Milão o julgamento de 32 políticos e empresários acusados de corrupção pela Operação Mãos Limpas, entre eles dois ex-primeiros-ministros.
Os jornais italianos vêm chamando o processo –o maior desde o início da operação, há dois anos– de "o julgamento de Nurembergue" dos políticos do país.
Nurembergue é a cidade alemã onde os aliados vencedores da Segunda Guerra Mundial julgaram por crimes de guerra os líderes nazistas que conseguiram capturar.
Nenhum dos 32 réus compareceu ao tribunal no primeiro dia. Eles incluem os ex-premiês Bettino Craxi e Arnoldo Forlani e os ex-ministros Gianni de Michelis e Paolo Cirino Pomicino.
Craxi e Forlani foram líderes do Partido Socialista e da Democracia Cristã, até recentemente os dois maiores partidos políticos da Itália, hoje em desgraça após dois anos de escândalos de corrupção.
Também estão sendo julgados três dirigentes de partidos menores que participaram de coalizões de governo com o PS ou com a DC.
Outro réu é Umberto Bossi, líder da Liga Norte, um dos três partidos conservadores que integram a coalizão de governo eleita há dois meses.
As principais acusações contra os políticos envolvem corrupção passiva –aceitar contribuições eleitorais ilegais de empresários, supostamente em troca de vantagens em concorrências públicas ou negócios com o governo.
Craxi já reconheceu publicamente que nos últimos anos o PS havia recebido o equivalente a US$ 62 milhões em contribuições de empresas.
Entre os empresários acusados estão dirigentes de grupos como Fiat e Olivetti. No centro das acusações está o grupo Ferruzzi, maior conglomerado da Itália no setor de alimentos e química.
Os juízes da Operação Mãos Limpas sustentam que o grupo distribuiu suborno sistematicamente para retirar-se da falida Enimont, uma joint venture formada em 1989 com a estatal de energia ENI.
O grupo Ferruzzi também teria montado um gigantesco esquema para financiar a eleição de políticos "amigos" em 1992.
Craxi teve sua prisão pedida anteontem por um juiz. Seus advogados dizem que ele está doente demais para deixar sua casa em Túnis (Tunísia). Ele sofre de diabetes e problemas cardíacos.
O início do julgamento coincidiu com a prisão de seis investigadores da Polícia Financeira, acusados de aceitar propinas de empresas para ignorar irregularidades.
"Este é um momento dramático. Esta não é uma investigação da Operação Mãos Limpas, mas sobre a Mãos Limpas", disse Antonio di Pietro, o mais importante magistrado envolvido na operação.

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