São Paulo, quarta-feira, 6 de julho de 1994
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Demais é ruim

Nos resultados do combate à inflação, algumas variáveis tendem a ser determinantes. Além do equilíbrio fiscal e do controle monetário, será fundamental o comportamento das reservas internacionais, para as quais nem sempre se aplica o princípio do "quanto mais, melhor".
Com uma história de frequentes estrangulamentos externos, é até natural que um elevado volume de reservas em divisas seja visto como positivo. E, de fato, as reservas constituem-se em importante garantia para a estabilidade do real.
A medida provisória que criou a nova moeda estabelece que para cada real emitido o governo vinculará US$ 1,00 de suas reservas como lastro. Até o final do ano a MP prevê emissões de aproximadamente R$ 8,5 bilhões. Quando os dólares superam esse lastro e são trocados por reais, o governo é forçado a emitir títulos públicos em seguida, para impedir a expansão da base monetária. Os juros desses títulos, entretanto, custam bilhões de dólares por ano ao Tesouro.
Um eventual "excesso" de divisas, portanto, pode prejudicar seriamente a meta de equilíbrio orçamentário. Daí a importância de monitorar seu comportamento.
Neste início de julho, o BC não interveio no mercado, permitindo que o deságio caísse ainda abaixo dos 5% praticados no fim de junho. Ontem, quem quis vender dólares para aplicar aos elevadíssimos juros internos recebeu entre 91 e 94 centavos de real para cada dólar.
Seguindo assim, essa perda inicial tende a desestimular, convenientente, uma entrada excessiva de recursos. Afinal, os quase US$ 40 bilhões de reservas atuais parecem mais do que suficientes para cobrir os US$ 8,5 bilhões de lastro, as necessidades financeiras e mesmo uma eventual queda da balança comercial. As exportações brasileiras são atualmente bastante superiores às importações e a recente desvalorização mundial do dólar favorece as vendas ao exterior.
Uma cesta de moedas européias e do iene contra o dólar, elaborado pela consultoria MB Associados, indica uma queda da moeda americana de aproximadamente 10% desde o início do ano, sendo 5% apenas em junho. Como o real está vinculado ao dólar, a desvalorização favorece as exportações do Brasil, já que 40% delas destinam-se ao Japão e esses países europeus.
Em tese, portanto, o deságio hoje existente ajuda o plano de estabilização. Mas até quando?

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