São Paulo, quarta-feira, 6 de julho de 1994
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Preços de Primeiro Mundo

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Brasil e Espanha têm economias mais ou menos compatíveis, nos últimos lugares entre as dez maiores do mundo.
Mas, como há quatro vezes mais brasileiros do que espanhóis, cada espanhol é, em tese, quatro vezes mais rico do que cada brasileiro. Teorias econômicas à parte, o lógico seria que os preços espanhóis fossem superiores aos brasileiros.
Pois não é que ocorre o oposto? No fim-de-semana retrasado, as Galerias Preciados (uma loja de departamentos equivalente ao Mappin) vendiam um pacote de três camisas por 4.975 pesetas ou US$ 12,56 cada (o mesmo valor em reais).
No Shopping Ibirapuera, em São Paulo, não encontrei uma camisa equivalente às que vi na Espanha por menos de R$ 29,00. Logo, conclui-se que o espanhol, quatro vezes mais rico do que o brasileiro, compra com o mesmo dinheiro 2,5 vezes mais camisas do que o brasileiro.
Eu só gostaria de entender o fenômeno. Será que o trabalhador brasileiro ganha tanto que os produtos que fabrica tornam-se tão caros? Parece que ocorre justamente o oposto. Será que o tecido brasileiro é tão fantasticamente superior ao espanhol que gera tal distorção? Não tem lógica.
Poder-se-ia, no limite, suspeitar que se trata de um caso atípico, que ocorre em apenas um setor. Não é. Comprei, em Madri, um sapato por 1.995 pesetas ou US$ 15,11. Fui conferir ontem, no Shopping Ibirapuera: com esse dinheiro, o máximo que conseguiria comprar seria ou um chinelo ou um calçado infantil.
Se o empresariado espanhol pode vender pelos preços citados e não morrer de fome, dá para suspeitar que os brasileiros também possam, certo?
É possível que as distorções encontradas sejam puramente casuais. Mas pode ser também que a disparada de preços ocorrida às vésperas do lançamento do real tenha colocado os preços brasileiros acima de um padrão digamos normal. Se for esta a hipótese correta, o benefício da estabilização fica ou muito prejudicado ou, até, anulado.

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