São Paulo, quarta-feira, 6 de julho de 1994
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O milagre do diálogo

A viagem de Iasser Arafat à Faixa de Gaza e à Cisjordânia é sem sombra de dúvida um fato histórico. Aquele que até há pouco era procurado pelas autoridades israelenses como o inimigo público número um recebe hoje escolta das forças de segurança de Israel.
O surpreendente processo de paz no Oriente Médio –em que pese as enormes dificuldades e os duros testes que ele ainda terá de enfrentar– dá uma boa mostra de que é sempre possível superar, por meio do diálogo, décadas (senão séculos) de inimizade.
É bem verdade que esse diálogo foi quase forçado e só se realizou porque o cenário geopolítico mundial transformou-se profundamente com o fim da Guerra Fria. E o conflito no Oriente Médio era provavelmente o caso mais claro de disputa, entre as duas superpotências, por uma zona de influência.
De qualquer forma, existem outros conflitos que o mundo herdou da Guerra Fria que não foram absolutamente resolvidos. Isso prova a importância do diálogo e de concessões mútuas para que se dissolvam estados de beligerância em que as únicas vítimas são os próprios povos envolvidos.
E, se a viagem de Arafat às áreas autônomas palestinas é um fato a ser comemorado por toda a humanidade, ela não pode de maneira alguma esconder as dificuldades que ainda separam judeus e palestinos de uma convivência harmônica e proveitosa para os dois povos. Os radicais de ambos os lados contam-se aos milhares e não resta a menor dúvida de que eles –numa pérfida aliança tática pelo terror– não pouparão esforços para sabotar o processo de paz. O recente massacre de Hebron é uma prova da determinação dos fanáticos.
A lição que fica é de que a paz, um ideal que deve ser a meta de qualquer organização política contemporânea civilizada, encontra seu melhor caminho no diálogo. Por vezes, é preciso ter muito mais coragem para celebrar a paz do que para declarar a guerra.

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