São Paulo, quinta-feira, 7 de julho de 1994
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O novo diálogo Norte-Sul

RUY M. ALTENFELDER SILVA

Representantes de governos, políticos, diplomatas, cientistas políticos sociais e empresários reúnem-se desde ontem, na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), no 3º Fórum Euro-latino-americano, inicitiva inspirada no desafio da integração interregional, em face do cenário de globalização da economia.
Patrocinado pelo Instituto Roberto Simonsen, braço cultural da Fiesp/Ciesp, e pelo Instituto de Estudos Estratégicos e Internacionais de Lisboa –com apoio da União Européia e do Sebrae–, o Fórum é também produto dos novos conceitos que orientam as relações entre os países da Europa e da América Latina.
Sem pretensões de análise geopolítica, pode-se dizer que essas relações tendem a reafirmar a vocação das duas regiões para o entendimento –ditada por afinidades étnicas e culturais– e a se caracterizar, no plano da cooperação econômica, pela crescente corresponsabilidade dos governos latino-americanos, que assumem cada vez mais o papel de indutores, atribuindo à iniciativa privada a liderança do processo econômico. É esse o diálogo Norte-Sul que se deseja, coerente, de resto, com o quadro de liberalização que se observa no mundo.
Para o Brasil, a aproximação que o Fórum tem ensejado, ao longo dos últimos anos, é evidentemente importante, porque nele estão presentes as grandes questões associadas à sua integração competitiva, passo necessário na busca do desenvolvimento.
O fechamento que caracterizou nosso modelo econômico é impensável, hoje em dia, e a abertura de mercado é menos uma opção do que uma contingência da nova economia mundial.
A questão é fazer a abertura sem desmontar a estrutura produtiva do país, preservando um patrimônio construído com o trabalho de gerações, e criar ao mesmo tempo os meios para promover a modernização das empresas, tornando-as competitivas internacionalmente.
Sem embargo de novas políticas que precisam e devem ser implementadas, a indústria brasileira tem avançado nessa direção, realizando um formidável esforço e capacitando-se para enfrentar as novas condições.
A aproximação entre governos e empresários de diferentes países permite a identificação de interesses comuns, ampliando as possibilidades de realização de empreendimentos conjuntos e é disso que precisamos –sócios dispostos a assumir riscos, a trazer recursos financeiros e tecnologia, a acreditar no país.
O 3º Fórum Euro-latino-americano, que se encerra hoje, proporcionará uma análise atual dos problemas da integração, dando aos empresários melhores condições de avaliar tendências e oportunidades.
É também uma chance para que autoridades e estudiosos das relações internacionais aprofundem o diálogo com representantes de governos e especialistas europeus em torno da agenda comum.
Trata-se da consolidação de uma experiência que teve origem em 1990, quando se realizou em São Paulo o 1º Fórum Euro-latino-americano, cujo tema central foi "A Europa dos anos 90 e as opções latino-americanas". Iniciou-se, então, uma mobilização que se revelaria extremamente produtiva.
O 2º Fórum, organizado dois anos depois, em Lisboa, abordou o tema "Relações euro-latino-americanas –que futuro?", destacando o Mercosul, apontado como futuro pólo de atração para os demais países do continente.
Este ano, a discussão centra-se no papel da integração regional como fator de estabilização do sistema internacional, de consolidação democrática e de desenvolvimento econômico.
A partir de textos produzidos por autores europeus e latino-americanos elaborou-se relatório indicando pontos de convergência e divergência existentes nas duas regiões. Na prática, estão sendo abordadas questões como a organização das relações comerciais e a montagem de uma agenda de ação que aproxime os representantes da sociedade civil.
Segmento especial do 3º Fórum é dedicado à inserção competitiva dos produtos e serviços das microempresas no Mercosul e na União Européia. Inicia-se, assim, um trabalho cujo próximo passo será a tentativa de promover o engajamento das micro e pequenas indústrias no esforço de aproximação, por meio de iniciativas como a organização de comitivas de empresários à Europa para detectar oportunidades de negócios. Logo, a integração deixará de ser apenas um sonho.

RUY MARTINS ALTENFELDER SILVA, 53, advogado e empresário, é diretor-geral do Instituto Roberto Simonsen da Federação e do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp/Ciesp).

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