São Paulo, quinta-feira, 7 de julho de 1994
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Qualidade total e Copa do Mundo

PAULO NATALE

O futebol do Brasil foi considerado por muito tempo o melhor do mundo. Muitos ainda pensam assim, mas os fatos não confirmam isso. Será que os jogadores não são bons?
Pode ser, mas em um país onde milhões jogaram, jogam ou jogarão futebol, não há de faltar expoentes. Da mesma forma que em uma empresa quem desenvolve potenciais é o gerente, grande parte do sucesso de um time depende do técnico, que deve:
conhecer suas próprias limitações;
entender que sua estabilidade no emprego depende de resultados;
estar preparado para tomar atitudes pouco populares se os fatos assim o exigirem;
conhecer os pontos fortes e fracos de suas estratégias e de seus jogadores. O mesmo para os adversários. Priorizar;
escolher os jogadores baseado em desempenho, não em preferências pessoais;
prover treinamento relevante e condições razoáveis de trabalho;
explicar expectativas e quais as consequências de cumprí-las ou não;
medir e comunicar constantemente o desempenho em relação aos objetivos;
fazer-se respeitar pelo exemplo (cumpro as mesmas regras que você);
ver além das aparências: buscar as verdadeiras causas de um desempenho insuficiente.
Fazer e cumprir um plano de ação para correção;
dar reconhecimento para os que melhor cumprirem as expectativas, sem que se sintam mais importantes que os outros, atrapalhando o trabalho da equipe;
cuidar para que lideranças paralelas (sobretudo dos jogadores) estejam a seu favor para evitar que os desviem do caminho.
Nosso futebol necessita melhoria, e também nossa indústria, e sobretudo nossos serviços. Mas será que os trabalhadores e os gerentes brasileiros estariam preparados para programas de qualidade?
Os brasileiros são flexíveis e trabalham bem em equipe. Além disso, devido à taxa de desemprego, os funcionários procuram manter-se em suas atuais empresas. Isso por si só já é um estímulo indiscutível para encorajar funcionários a trabalharem com qualidade: eles têm empregos!
Então é importante que os programas de qualidade busquem também desenvolver a gerência, para que essa possa dar uma melhor contribuição. Desenvolver a gerência implica fazer com que cada gerente se conheça melhor, sabendo seus pontos fortes e a melhorar.
Outra dificuldade é fazer com que reconheçam que embora seu estilo de gerenciamento tenha sido ótimo no passado (assim como o futebol), hoje necessita ser reavaliado. Liderança hoje não significa mais "gerentes e funcionários", mas sim "equipe de trabalho".
E finalmente, e mais fácil, identificar áreas para melhoria e suprir essa carência. O bom gerente deve ser muito parecido com um bom técnico.
O maior perigo que a seleção brasileira de futebol enfrenta nessa Copa do Mundo não são as outras seleções assim como os maiores desafios de uma empresa não estão do lado de fora de suas portas. O perigo é o técnico.
Boa sorte, Brasil!

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