São Paulo, quinta-feira, 7 de julho de 1994
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Elas não, salvem as lagostas por favor!

MATINAS SUZUKI JR.

MATINAS SUZUKI JR
.Enviado especial a Boston
Meus amigos, meus inimigos, os jogos das oitavas na costa leste dos EUA, anteontem, os últimos da fase, foram generosos na emoção. Só na última jornada é que as partidas exigiram os extras.
Os dois times que se classificaram em primeiro lugar nos respectivos grupos, Nigéria e México, estão fora. Foram dois jogos de muito desgaste físico, de stress psicológico e emocional, e de expulsões.
A Itália, por exemplo, no final da prorrogação com a Nigéria, se arrastava em câimbras pelo campo. Alguns jogadores, como o lateral Benarrivo, sequer conseguiam andar. Um quadro desolador.
Em tese, Alemanha e Espanha, que estão há longos (a noção de tempo muda em uma Copa) dias esperando a Bulgária (que vem de dois jogos demolidores) e a Itália (idem), levam vantagem. Em tese.
Na geopolítica do futebol, o pedaço de terra do mundo que mais ganhou com a Copa do Mundo até agora foi a chamada Europa oriental, o futebol que é filho do fim da Guerra Fria.
Romênia e Bulgária chegam às quartas-de-final. Acho que esta será uma tendência daqui para a frente: eles disputarem com a América do Sul o espaço de segunda potência do futebol.
E disputarem em algo muito parecido: seus jogadores, que como os nossos, são pés-de-obras qualificados exportados para os campeonatos do Primeiro Mundo, tendem a ser muito habilidosos.
Muito mais do que os italianos, os espanhóis e os portugueses, que os importam, por exemplo. Ao Brasil, coube a missão de ser o único time não europeu daqui para a frente na Copa.
O jogo do Brasil (1º do B) contra a Holanda (1º do F) será ainda o único em que os dois primeiros classificados dos respectivos grupos se enfrentarão.
Também será o único jogo das quartas entre duas seleções que já chegaram em uma final de Copa do Mundo. O Brasil, três vezes campeão e uma vez vice. A Holanda, duas vezes vice.
O jogo com mais pedigree das quartas.
O confronto dos latinos-europeus, Itália e Espanha, aqui em Boston, no próximo sábado, deverá ser um dos mais interessantes da Copa. Deveria ser um jogo filmado pelo cineasta Luchino Visconti.
Além do fato de a Espanha ter dominado a Itália até o século passado, os dois países hoje disputam a hegemonia dos campeonatos regionais na Europa. Hospedam os dois torneios mais ricos da terra.
É o jogo com mais grana envolvida em futebol nestas quarta-de-final.
Massachusetts liderou a independência americana. Tem uma das melhores universidades do mundo, Harvard. Tem o MIT, talvez o mais famoso centro de investigações tecnológicas da terra.
Boston foi concebida com a Atenas das Américas. Teve o primeiro livro americano, o primeiro jornal, o primeiro poema americano (aliás de uma mulher) publicado. A primeira lei antitabagista.
Agora, dois orgulhos deste que seria o sonhado Novo Mundo dos puritanos estão ameaçados. Os católicos Kennedys (Ted, depois de tantos anos, vê pela primeira vez perigar a sua releição ao Senado).
E as maravilhosas lagostas. Elas não. Salvem as lagostas, por favor!

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