São Paulo, quinta-feira, 7 de julho de 1994
Próximo Texto | Índice

Roger Corman prepara viagem no tempo

ARIEL PALACIOS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O diretor e produtor norte-americano Roger Corman, que estará no Brasil em setembro para uma mostra de seus filmes no Festival Banco Nacional de Cinema (leia texto abaixo), já foi chamado de "rei da série B" e de "papa do cinema pop".
Foi o "padrinho" de atores e de diretores que se tornaram famosos. Pela escuderia Corman passaram Francis Ford Coppola, Martin Scorcese, Peter Bodganovich, Jonathan Demme, Jack Nicholson, Charles Bronson, entre muitos.
Fez filmes que se caracterizavam por baixíssimos orçamentos e por nunca ter perdido dinheiro em suas produções. Filmou "A Pequena Loja dos Horrores" em dois dias e uma noite.
Gosta de ter o controle de tudo. "Se faço filmes para minha própria companhia, eu decido que filmes faço, como os rodo e distribuo. Se trabalhasse para um estúdio maior, estaria sujeito às sugestões e ordens deles."

Folha - Mr. Corman, o sr. escreve, dirige e produz todos os seus filmes. Isso é um prazer ou um desejo de controlar tudo?
Roger Corman - São ambos. Em primeiro lugar é um prazer fazer tudo. Depois, porque eu tenho o controle. Atualmente me concentro na produção. Faço 20 filmes por ano e também sou o encarregado de distribuí-los.
Por isso não tenho mais tempo para trabalhar como diretor... de qualquer forma, não sabia se esta entrevista seria às 15h ou às 17h, por isso, enquanto estive em meu quarto escrevi uma nova sinopse para um filme que quero fazer.
Se chamará "Time Travel Incorporated". Ou poderia chamá-la "Time Travel Park". Não sei. Qual você pensa que é a melhor?
Folha - "Time Travel Park" seria uma analogia cômica ao "Jurassic Park" de Spielberg?
Corman - Pode ser. Mas talvez tenhamos um outro título completamente diferente.
Folha - Pode contar as linhas principais da história?
Corman - OK. Estive na Irlanda na semana passada. O Ministério da Cultura de lá me informou que Mel Gibson estaria fazendo um filme na Irlanda chamado "Coração Valente".
Para isso construíram uma cidade inglesa do século 13. Comecei a pensar como poderia fazer um filme aproveitando essa cidade.
E vim com essa idéia de um filme histórico ou sobre alguma espécie de viagem no tempo, em que as pessoas voltam para o passado.
Como estarei rodando um faroeste chamado "Crazy Horse" no fim do ano e, no começo do ano que vem, um outro filme com o título "Dillinger e Capone", sobre os gângsteres dos anos 30 e além disso uma ficção-científica transcorrida no futuro, pensei que os personagens de "Time Travel..." poderiam voltar a uma cidade inglesa do século 13, ao velho Oeste, ver os gângsteres de Chicago e viajar ao futuro.
Também posso tirar partes de meus velhos filmes e, misturando os que fiz com outros que estarei fazendo, posso fazer os personagens viajar a diferentes períodos. Por enquanto é apenas uma idéia.
Folha - O que o atrai tanto na ficção científica?
Corman - Creio que é o futuro possível, ou diferentes mundos, algo mais além de nossa realidade. Eu me formei em engenharia e ciência e assim combino uma série de meus interesses trabalhando em meus filmes.
Folha - O sr. é contra filmes de grandes orçamentos?
Corman - Não faço objeções a grandes orçamentos quando gastos inteligentemente, como James Cameron e Gale Ann Hurd em "O Exterminador do Futuro 2".
Fizeram um bom filme que reflete a quantidade de dinheiro que gastaram... Jim e Gale começaram comigo e entenderam que o dinheiro que se gastava era para alcançar um objetivo.
Tenho objeção ao tipo de filme onde duas pessoas falam num quarto e dizem que custa US$ 15 milhões. Parece ridículo, mas isso acontece.
Folha - Qual sua opinião sobre os filmes de Coppola?
Corman - Francis é o que na América chamam "in and outer", o que significa que em um momento pode fazer um bom filme, logo outro não tão bom, e um bom outra vez. Ainda assim, os filmes não tão bons são interessantes.
Folha - E Scorsese?
Corman - No estilo Scorsese há algo que reflete seu trabalho comigo. Quando filmávamos nas ruas, movia-se perfeitamente em seu "estilo suburbano-marginal".
"A Época da Inocência" reflete seu desejo de se mover em um estilo clássico pelo menos em um filme. Somente para mostrar que o podia fazer.
Folha - E Jonathan Demme?
Corman -Gostei muito de "O Silêncio dos Inocentes" porque é um filme de horror contemporâneo, com a tradição dos filmes clássicos do gênero. Ele soube lhe dar uma ambientação 'gótica', transportada aos dias de hoje. É brilhante.
Folha - "A Pequena Loja dos Horrores" ou "O Massacre de Chicago" são considerados cult-movies. Que sente quando ouve isso?
Corman - É divertido. Nunca se começa a fazer um cult-movie. Começa-se simplesmente fazendo um filme. Está bem que seja um cult-movie, pois mais pessoas irão vê-la, muito mais tarde do que termina a vida normal de um filme.

LEIA MAIS sobre Roger Corman à pág. 5-3

Próximo Texto: Invenção é palavra de ordem para produtor
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.