São Paulo, quinta-feira, 7 de julho de 1994
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Carl Bernstein ataca o sensacionalismo

ANDREA PURGATORI
DO "CORRIERE DELLA SERA"

Quando fala de Woodward, sua outra metade no caso Watergate, o jornalista Carl Bernstein nunca o chama de Bob. Quando fala de Richard Nixon, levanta os ombros como sinônimo de desdém. Com o caso Watergate vieram um prêmio Pulitzer, alguns milhões de dólares com os direitos de seus livros e de um filme de Alan Pakula ("Todos os Homens do Presidente"), em que Dustin Hoffman interpretou-o no escândalo que derrubou Nixon da Presidência dos Estados Unidos.
Nos 22 anos seguintes ao caso, Bernstein viveu o sucesso, o fim do sucesso, o esquecimento e o retorno, com um artigo no "The New Republic" sobre os sistemas de informação no mundo, a "cultura idiota" do sensacionalismo e do divertimento a qualquer custo, "do jornalismo popular à Murdoch", diz.
Pergunta - O mundo norte-americano da informação está muito mal?
Resposta - Sim. Tem uma cultura dominante que vai para o sensacionalismo e não representa a nossa vida. Mesmo o excelente jornalismo que sobreviveu vem sendo massacrado pouco a pouco pela cultura idiota dos "talk-shows".
Pergunta - A culpa é da TV, então?
Resposta - Não apenas. A culpa é também do aumento dos jornais ditos populares. E será cada vez mais preciso coragem para fazer um jornalismo sério, para andar contra esta corrente.
Pergunta - Talvez esta tendência esteja influenciando mesmo os grandes jornais, como "Times", "Post", "Wall Street Journal"...
Resposta - Em parte isto está acontecendo, mesmo que eles ainda representem grandes exceções em relação à moda. A verdade é que eu acho que não se faz mais o grande jornalismo nos jornais, mas nos livros.
Pergunta - E as áreas protegidas continuam sendo aquelas dos grandes jornais...
Resposta - Bem... Eu sei que o jornalismo deve ter seu lado popular, mas não necessariamente para o lado baixo. Isso não quer dizer que não devamos trabalhar crimes e sexo. O problema é a ênfase que se dá sobre os argumentos e que depois resulta em uma cultura e uma verdade disforme de mundo.
Pergunta - A existência da CNN é positiva?
Resposta - Certamente. É um dos casos mais positivos de influência na história do jornalismo. Obrigou todas as outras emissoras a não baixar jamais a guarda e garante que em qualquer lugar do mundo em que aconteça algo importante existirá uma TV transmitindo diretamente.
Pergunta - Mas ela não obrigou os jornais a um corrida impossível?
Resposta - Não diria isso. Se trabalha com método e objetivos diferentes... E além disso, dois minutos de TV podem contar uma grande história, mas também podem estar cheios de idiotices.

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