São Paulo, sábado, 9 de julho de 1994
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A tarifa "real"

ARNALDO MADEIRA

Em 18 meses, de janeiro de 1993 a junho passado, a tarifa de ônibus em São Paulo subiu exatos 47.313,3%, mais que o dobro da inflação medida pelo IPC da Fipe.
Nesse mesmo período, o óleo diesel –apontado pelo prefeito como o vilão da história– subiu 22.819,7%. O óleo diesel tem uma participação pequena, de 7,7%, no custo da tarifa. Portanto, se há um responsável pelos aumentos abusivos das tarifas, ele não é exatamente o combustível.
Nunca foi tão caro andar de ônibus na cidade. Não há nada que justifique a fixação de tarifa em R$ 0,50. A não ser o desejo da administração de reduzir, a qualquer preço, o nível de subsídios ao sistema de transporte coletivo e a sua indiferença à situação de penúria da maioria da população.
Levantamentos por nós realizados mostram que a tarifa média diária, de fevereiro a maio deste ano, foi de 0,39 URV. Este foi o período definido pelo governo federal para a conversão das tarifas públicas em URV. Não é tudo.
Em 1993, a tarifa média em dólar, considerado o dólar médio de cada mês, foi de 37 centavos de dólar e, em 1994, de 39 centavos de dólar.
O acompanhamento sistemático das planilhas e dos relatórios mensalmente publicados pela CMTC mostra que a Prefeitura de São Paulo tem superestimado o número de ônibus em circulação na cidade e o número de quilômetros por eles rodados.
Desta forma, eleva artificialmente o custo da tarifa. Se os números utilizados pela prefeitura para o cálculo da tarifa fossem os corretos, o preço da passagem deveria ser pelo menos 17,8% menor.
De acordo com as planilhas de custo, de janeiro de 1993 a maio de 1994, a média mensal de ônibus em circulação foi de 9.986. Relatórios da CMTC, no entanto, mostram que, nesse mesmo período, circularam em média 8.230 ônibus por mês.
Segundo as planilhas de custo, de janeiro de 1993 a maio de 1994, os ônibus em circulação percorreram 63,4 milhões de quilômetros por mês, em média. De acordo com os relatórios da CMTC, no mesmo período, foram percorridos 57 milhões de quilômetros mensalmente. As planilhas servem para o cálculo do custo e, consequentemente, para a fixação dos valores das tarifas.
Ao fixar a tarifa em R$ 0,50, o prefeito adotou uma política de boicote ao plano real. Mais: jogou nas costas do usuário o peso da irracionalidade do sistema. Fez, enfim, o contrário do que pregara durante a campanha eleitoral. O que, aliás, não surpreende.

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