São Paulo, sábado, 9 de julho de 1994
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Marsalis diz que jazz rap é só comércio

CARLOS CALADO
ENVIADO ESPECIAL A MONTREUX

Não foi de graça que o trompetista Wynton Marsalis foi escolhido para a primeira noite de jazz do 28º festival de Montreux. Raros músicos são tão radicais na defesa da tradição jazzística como esse americano de 33 anos.
Bastante aplaudido, o concerto de Marsalis, anteontem, permitiu antever o que paulistas e cariocas ouvirão ao vivo na terceira temporada do jazzista no Brasil.
Boa parte da apresentação foi ocupada por peças do recém-lançado álbum "In This House, on This Morning" (Sony), no qual Marsalis retoma sua abordagem do blues, do gospel e do jazz tradiconal de Nova Orleans.
Mesmo com dois músicos novos (o saxofonista Victor Gomes e o baixista Ben Wolfe), o septeto de Marsalis continua homogêneo e preciso. A platéia de Montreux aplaudiu cada solo, especialmente os mais extensos do líder.
Polêmico como sempre, em entrevista exclusiva à Folha, Marsalis falou de seus novos projetos e criticou a nova tendência do jazz rap, que considera um modismo puramente comercial.

Folha - Em que projetos você está envolvido atualmente, além das turnês?
Wynton Marsalis - Estou trabalhando em vários projetos educativos. Um é o de um programa de rádio para a National Public Radio dos EUA, que vai ensinar como se faz música. Em dezembro vou lançar um livro sobre a minha carreira. Um outro disco clássico vai sair em breve, além de cinco álbuns de jazz gravados ao vivo no Village Vanguard, em Nova York.
Folha - O que você acha dessa onda de jazz rap?
Marsalis - Acho que esses sujeitos nem deviam usar o nome jazz, isso não tem nada a ver com jazz. Para tocar jazz, em primeiro lugar você tem que interpretar o blues. Esse elemento tem que estar presente, ou então não é jazz.
Folha - Então você discorda de Quincy Jones, ou do rapper Guru, que dizem que o jazz e o rap têm as mesmas raízes?
Marsalis - Discordo totalmente. O jazz nasceu da música religiosa, do blues e da música das bandas de rua. O rap vem do rock.
Folha - Você diria que essa fusão é nociva para o jazz?
Marsalis - Isso não é jazz, portanto não me importa se é bom ou mal para ele. Essa fusão não vai ter efeito nenhum sobre o jazz. Ela permite que alguns músicos possam ganhar algum dinheiro. Eles tocam alguma frase de bebop junto com o rap e podem se tornar mais conhecidos. Tanto os mais velhos como os mais novos.
Folha - Essa sua opinião não é um tanto conservadora?
Marsalis - Bem, eu diria que, se sou conservador, minha opinião deve estar de acordo com a opinião da maioria das pessoas. E a opinião da maioria do público é justamente onde a maior parte do dinheiro está. Nisso eu acho que eles concordam comigo (risos).
Folha - Você tem sido visto como um defensor da tradição jazzística. Isso é intencional?
Marsalis - Não, gosto de debater e insisto no que acho importante, mas ninguém tem que concordar. Só que eu tenho opiniões baseadas em uma pesquisa profunda.

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