São Paulo, sábado, 9 de julho de 1994
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Os ricos também sofrem

Realiza-se neste fim-de-semana mais um importante encontro entre os sete maiores países industrializados do mundo. A agenda prevê importantes negociações econômicas.
Há exatos 50 anos criou-se um sistema monetário cujo objetivo era abrir caminho para a reconstrução das sociedades devastadas pela guerra, especialmente a Europa. A Conferência de Bretton Woods recriou um sistema de taxas de câmbio fixas, à semelhança daquele padrão-ouro que marcara o Império Britânico. A diferença é que o novo sistema rapidamente se transformaria não propriamente em padrão-ouro, mas em padrão-dólar.
O mundo se dolarizou. Mas surgiu um paradoxo: não há como sustentar o valor desse dólar que todos supunham suficientemente sólido. Desde os anos 60, as crises foram se sucedendo. O exemplo mais dramático é o do iene, que já foi trocado à razão de 360 por dólar no pós-guerra, mas que, na semana passada, afinal rompeu a barreira psicológica dos 100 ienes por dólar.
Ao longo dos últimos dias os mercados esperaram por uma elevação dos juros nos EUA. É a lógica econômica: se o Fed não quer que os agentes fujam de títulos dolarizados, precisaria elevar o retorno prometido. Ou seja, precisaria sacrificar o crescimento norte-americano. Caso não o faça, estaria sinalizando que pretende esperar o dólar se estabilizar em um patamar inferior ao que prevaleceu nos últimos anos, talvez para favorecer as exportações dos EUA. Mas a desvalorização traz inflação e, assim, expectativa de mais desvalorização no futuro.
A situação política, entretanto, é de impasse. O presidente Clinton, perdendo prestígio doméstico, naturalmente prefere a alternativa de que os parceiros ricos, Japão e Alemanha, reduzam seus juros.
Mas Alemanha e Japão também têm suas dificuldades políticas. No Japão está em curso a maior crise política desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Um político socialista comanda o gabinete. Na Alemanha há consciência de que o esforço de unificação já tem gerado custos enormes, que se tornariam insustentáveis se uma saída de capitais ou uma taxa de juros muito baixa provocassem mais inflação.
Há portanto conflitos de interesses cuja gravidade não tem precedentes. Pode não ser um consolo, mas vale pelo menos constatar que os ricos também sofrem.

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