São Paulo, sábado, 9 de julho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Um plano cauteloso e não eleitoreiro

JOÃO SAYAD

O governo brasileiro está agindo certo ao praticar taxas de juros nos níveis atuais?
EM TERMOS
Autoridades econômicas, cautelosas, não querem nesta altura tomar decisões irreversíveis
Completamos hoje uma semana de real. Interrompida por uma partida da Copa que nos fez sofrer muito mais do que qualquer reforma monetária. Portanto, muito pouco tempo. E qualquer julgamento é provisório e prematuro.
Só podemos dizer que os juros serão altos ou baixos com relação à inflação esperada de julho. E quanto vai ser a inflação de julho?
O Dieese, representando os trabalhadores, vai dizer que a inflação é muito alta, talvez por causa do "carry-over", ou pela aceleração do final de junho. Os índices de preços por atacado serão muito baixos, talvez nulos ou mesmo negativos. Os índices de preços aos consumidores, mais altos. E de quanto: 5%, 8% ou 3%?
Os juros estão altos por prevenção. Para evitar que a nova moeda, o real, no primeiro mês de sua vida, que esperamos longa, pague juros menores do que a inflação. Então são altos para que possam, depois, cair.
O problema mais difícil de resolver é que tipo de regime monetário o governo escolheu. E, consequentemente, qual a função da taxa de juros.
Nos primeiros dias do plano, não parece nada com dolarização. O dólar tem um preço variável, a oferta de moeda é determinada pelas autoridades monetárias e a conversibilidade ficou menor, por causa do câmbio variável. Parece um regime de câmbio variável e oferta monetária controlada domesticamente.
Nesse caso o papel da taxa de juros é controlar a demanda. E a base de esforço antiinflacionário será um rígido controle do nível de atividade. Ou recessão, numa linguagem mais franca.
Se fosse dolarização, o câmbio seria fixo e a oferta de moeda de pagamentos seria determinada pela quantidade de dólares. A moeda seria conversível. Exatamente o oposto do regime atual, destes primeiros dias.
Neste caso, o combate à inflação seria baseado na confiança indireta na moeda –confio no real porque ele é o dólar.
Olhando agora, parece dolarização, mas não é. Mas ainda é muito cedo para julgar. O novo plano é feito por autoridades cautelosas, que reconhecem que têm um horizonte curto de decisões (três meses antes da eleição) e muito sérias. Não querem, nesta altura dos acontecimentos, tomar nenhuma decisão irreversível.
Este é um dos defeitos do plano. O outro é não ser um plano eleitoreiro.

Texto Anterior: Cadê a explosão de consumo ?
Próximo Texto: Safra e o programa petista; Diferenças; Homossexualismo; Gasolina, no Brasil e nos EUA; Policiais e crimes; Brasil-Argentina
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.