São Paulo, domingo, 10 de julho de 1994
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Livros didáticos têm erros de informação

DA REPORTAGEM LOCAL

Se os mapas defasados já foram corretos um dia, há livros didáticos novos que trazem problemas de informação, afirmam professores de geografia.
Nídia Pontuschka, 56, professora de prática de ensino de geografia da Faculdade de Educação da USP, afirma que já viu em alguns deles afirmações do tipo "a Amazônia é o pulmão do mundo".
Isso pressupõe que a maior parte da troca de gás carbônico por oxigênio é feita pela fotossíntese das árvores da Amazônia. Na verdade as algas marinhas produzem mais oxigênio do que todas as árvores do planeta juntas.
Ela aponta também erros estruturais. "Não se pode ensinar geografia humana separada da econômica e da física." O professor de geografia Demétrio Magnoli, 35, autor de livros didáticos, concorda. "Se os aspectos físicos forem apresentados isoladamente, vira decoreba", diz.
Para muitos alunos ainda é difícil enxergar a geografia de outro modo. "É uma matéria muito 'decorativa"', diz Mônica Francês, 12, na 6ª série da escola estadual Di Cavalcanti.
Maria Tereza Lambert, 11, aluna da escola municipal Dilermando Dias dos Santos (Lapa, zona oeste), diz que tem dificuldade de gravar a localização dos Estados e não sabe dizer onde fica Roraima, por exemplo. "Gosto mais de aprender coisas sobre São Paulo, onde estamos", diz.
Na opinião de Demétrio Magnoli, apresentar a divisão do mundo apenas em continentes dificulta a compreensão dos alunos.
"Isso é algo anterior à década de 50, antes de se falar em 1º, 2º e 3º mundos. Como esta divisão também está ultrapassada (o 2º mundo eram os países socialistas industrializados), há autores que em vez de apontar polarizações novas no mundo voltaram para trás."
Sílvia Barbara, diretora do Sinpro (Sindicato dos Professores) e professora de geografia do Colégio Magno, aponta outro problema: a limitação ideológica de algumas obras.
"É raro encontrar obras com pluralidade de idéias. Sobre privatizações de estatais, por exemplo, ou o autor é nitidamente a favor ou contra."
O que Sílvia considera completo em uma obra, para a professora Sheila Pinheiro, da escola Dilermando dos Santos, pode ser um problema. "Preciso de livros simples por causa do nível sócioeconômico dos alunos."

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