São Paulo, domingo, 10 de julho de 1994
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Escola sofre com material de geografia desatualizado

PAULO SILVA PINTO
DA REPORTAGEM LOCAL

A União Soviética ainda existe e a Bósnia-Herzegóvina faz parte da Iugoslávia nos mapas novos que a escola estadual Pereira Barreto, na Lapa (zona oeste de São Paulo) recebeu no final do ano passado, dois anos depois de ter solicitado material.
Os novos mapas vão ficar no armário. A associação de pais e mestres arrecadou uma verba extra e comprou dez exemplares atualizados para a escola.
A Secretaria Estadual de Educação, segundo sua assessoria de imprensa, admite a demora na distribuição de mapas e a falta de material didático de geografia na rede.
A partir do próximo mês vão tentar acabar com o problema. Começam a ser distribuídos conjuntos de sete mapas e 20 atlas geográficos para as 6.713 escolas da rede –se for liberada a verba prevista.
Na rede municipal paulistana, a situação não é melhor. A professora Marcolina Mosscalcoff, 50, está há cinco anos na escola Brasil-Japão, no Butantã (zona oeste), e nunca viu chegar um mapa, atualizado ou não.
"Eu passo uma folha mimeografada para os alunos mostrando como eram as fronteiras e como ficaram. Só depois coloco na parede os mapas, que estão desatualizados", diz ela.
Os professores aprenderam a conviver com a escassez e tratam de equipar as escolas com sua própria iniciativa.
Na escola Pereira Barreto, por exemplo, a professora de geografia Maria Quitéria de Oliveira montou uma coleção de minerais, com pedras, amostras de terras e vidrinhos cheios de petróleo.
Na escola estadual Di Cavalcanti (Alto de Pinheiros, zona oeste), a professora Regina Helena Souza, 45, faz cópias de informações geográficas e econômicas divulgadas em jornais e revistas.
Os alunos da professora Ivanete Durães, 26, também da Di Cavalcanti, fazem com isopor e massa corrida maquetes representando o relevo em escala sobre mapas.
Ivanete afirma que muitos mapas novos têm problemas de qualidade. Pior do que a desatualização das fronteiras, ela afirma, são os erros de cores representando diferentes relevos.
Planaltos, por exemplo, devem ser alaranjados ou marrons, para que os alunos se acostumem ao padrão e nem precisem olhar legendas. Não rosados, como nos mapas da escola estadual Ana Siqueira (Jaraguá, zona norte). "Eu prefiro levar para a sala de aula os mapas que eu trago de casa", diz Ivanete.
Os atlas da FAE (Fundação de Assistência ao Estudante), órgão do Ministério da Educação, também estão desatualizados. Estão à venda apenas 10 mil exemplares que sobraram de uma edição de 1991, defasada. Não inclui as mudanças no leste Europeu.
Segundo o chefe do departamento de operações da FAE, José Arimatéia, 47, deve sair uma edição atualizada com 50 mil exemplares até o fim do ano.

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