São Paulo, domingo, 10 de julho de 1994
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Banco perde interesse por depósito à vista

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA; FIDEO MIYA
DA REPORTAGEM LOCAL

"O compulsório vai gerar um desinteresse pelo crescimento dos depósitos à vista. Os bancos vão fazer um esforço junto aos seus clientes para que apliquem seus recursos. Isso vai ajudar a política do Banco Central (BC), de manter os recursos no mercado financeiro", diz o presidente do Banespa, Carlos Augusto Meinberg.
O aumento no recolhimento dos depósitos compulsórios para 100% sobre o que exceder a posição de antes de julho foi uma das medidas complementares baixadas pelo BC.
O objetivo foi conter a expansão do crédito via crescimento dos depósitos em conta corrente.
Alkimar Moura, diretor de Política Monetária do BC, é enfático neste ponto: "Os bancos vão poder aumentar a oferta de crédito sobre os recursos captados em CDBs e na caderneta de poupança, mas não sobre os depósitos à vista."
Assim, os milhares de gerentes vão ajudar o BC a controlar a emissão de moeda e a oferta de crédito.
Cada banco, porém, de acordo com a sua estratégia e necessidade deverá incentivar um determinado produto financeiro.
Estratégias
Há instituições que estão incentivando a aplicação nos fundos de investimento –elas ganham a taxa de administração. Quem, por exemplo, tem uma boa carteira de empréstimos imobiliários, vai incentivar a captação em poupança, e assim por diante.
No caso dos bancos estaduais, segundo a Folha apurou, a estratégia obedece a esta ordem: 1) engordar os depósitos à vista das empresas do setor público (sobre estes não há compulsório); 2) incentivar os CDBs e RDBs; 3) incentivar os recolhimentos e as cobranças; 4) incentivar a captação em poupança; e, 5) incentivar as aplicações em fundos de investimento.
Na avaliação de Alcides Tápias, presidente da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos), porém, o BC pode flexibilizar o compulsório dentro de um horizonte de 30 ou 40 dias.
A partir daí, os bancos voltariam a ter interesse em engrossar as suas respectivas contas corrente –já que é dinheiro "barato", não rende juros. Nos países desenvolvidos, os recursos em conta corrente são a principal fonte para empréstimos de longo prazo.
Até lá, os novos depósitos representam prejuízos para os bancos. Isto porque eles são transferidos para o BC sem nenhuma remuneração e geram despesas de manutenção da conta.
Segundo as estimativas do vice-presidente do Banco ABC-Roma, Alfredo Neves Penteado Moraes, o custo médio na compensação de cada cheque emitido pelo correntista é de R$ 1, enquanto os saques nos caixas eletrônicos custam R$ 0,30.
Tarifas
Para compensar essa e outras perdas, decorrentes principalmente da drástica queda da inflação, os bancos querem introduzir mudanças de caráter mais permanente, que irão alterar radicalmente os hábitos da sua clientela.
Uma delas é a cobrança de tarifas por serviços prestados que eram gratuitos na aparência, mas que na prática eram pagas pelos lucros obtidos pelos bancos com o "float" (dinheiro parado sem remuneração).
O presidente da Febraban disse que os bancos estão esperando que o BC autorize a cobrança de tarifas que ainda é proibida.
Entre estes serviços até agora gratuitos, estão: 1) o primeiro talão de cheques de 20 folhas em cada mês; 2) o primeiro extrato semanal impresso por terminais eletrônicos; 3) as consultas de saldos e movimentações de contas nos terminais eletrônicos; 4) lançamentos em conta corrente.
Até a semana passada, a maioria dos bancos consultados manteve as tarifas bancárias com a simples conversão dos valores em URV para o real (veja o quadro acima).
Mas Tápias prevê que elas terão que ser aumentadas.
(Fideo Miya e João Carlos de Oliveira)

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