São Paulo, domingo, 10 de julho de 1994
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Perda no dólar afeta os fundos de commodities

FIDEO MIYA

FIDEO MIYA; RODNEY VERGILI; JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A desvalorização de 9,5% do dólar em relação ao real nos quatro primeiros dias de julho, quando a cotação de compra da moeda norte-americana despencou de R$ 1 para R$ 0,905, gerou prejuízos proporcionais nos fundos de commodities que tinham títulos indexados ao dólar em suas carteiras.
Isto não significa que todos os cotistas dos 226 fundos existentes estão perdendo. A rentabilidade varia de acordo com a política de administração de carteiras de cada instituição.
Os administradores que aplicaram parcial ou totalmente os recursos em títulos indexados ao dólar, mas realizaram operações de "hedge" para proteger o patrimônio contra o risco de uma desvalorização do dólar, estão com rentabilidade garantida.
Essas operações de "hedge" poderiam ter sido feitas com a venda de contratos futuros de câmbio na BM&F (Bolsa Mercantil & de Futuros) ou com "swaps" (operações que consistem na troca de uma indexação ao dólar por outra, como a URV, TR ou CDI).
"Quem errou a mão no câmbio, emprestou recursos indexados ao dólar por exemplo, está perdendo até o calção", define Fábio de Oliveira, administrador dos fundos do Boston. No mercado, o Boston é tido como um dos que conseguiram acertar a mão –a rentabilidade exibida para os primeiros dias da nova moeda está bem acima da média (0,42% ao dia).
Oliveira diz que o mercado de fundos tende ficar mais competitivo a partir de agora. O banco reduziu a taxa de administração de seus fundos e aposta que o BC dará maior liberdade para o gerenciamento das carteiras.
Mas a verdade é que a desvalorização do dólar surpreendeu boa parte dos administradores, que a consideravam uma hipótese remota. "Foi uma possibilidade que não passou pela cabeça de ninguém", afirmou Victor Paranhos, diretor de investimentos do Banco Nacional.
Na sexta-feira passada, os cotistas do Nacional Commodities P.F. foram surpreendidos com uma desvalorização de 2% no valor de suas cotas, o que gerou uma perda acumulada de 1,565% entre 30 de junho e 7 de julho últimos.
Segundo Paranhos, 20% dos recursos do fundo estavam aplicados em operações de "box"de café (negócios conjugados de compra e venda de contratos futuros de café na BM&F) e "export notes" (títulos representativos de direitos de créditos de exportações), ambos indexados ao dólar.
A perda de 2% corresponde à desvalorização do dólar no período e foi contabilizada de uma só vez. "Estávamos cumprindo a lei, não foi uma política de administração especulativa", garante Paranhos.
Ele explica que o banco optou por lançar os prejuízos de uma só vez evitando que eles fossem absorvidos pelos cotistas que fizerem aplicações a partir de amanhã.
Isso ocorreria se os prejuízos fossem distribuídos proporcionalmente ao prazo remanescente dos títulos indexados ao dólar.
"Não estamos escondendo absolutamente nada. Nossa política é de total transparência", afirma. Ele promete que o fundo Nacional Commodities P.F. "terá uma das melhores rentabilidades, em comparação com os concorrentes".
A frase de Paranhos contém de forma velada o que outros administradores de fundos dizem sob a garantia do sigilo. "Há fundos que ainda não divulgaram suas respectivas rentabilidades com a desculpa de que ainda não tiveram tempo de fazer a conversão para o real, mas que, na prática, tentam retardar a má notícia."
Outro administrador admite a hipótese de que há fundos escondendo as perdas, com o uso do artifício contábil de distribuir os prejuízos ao longo dos prazos remanescentes dos títulos indexados ao dólar.
Marcelo Maneo, administrador dos fundos do Unibanco, diz que por trás da sigla commodities conviviam, na verdade, vários tipos de fundos. "Os que têm uma carteira de renda fixa vão render bem este mês".
Maneo diz ainda que, com a inflação baixa, "quando se erra vai ficar mais difícil consertar". Ele prevê maior competitividade entre os fundos e diz que a taxa de administração, também com a inflação baixa, vai passar a ser relevante –afeta a rentabilidade. Maneo aposta em uma maior flutuação dos juros daqui para frente.

Colaboraram RODNEY VERGILI, da Redação, e JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA, da Reportagem Local.

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