São Paulo, domingo, 10 de julho de 1994
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Amizade dilui tensão no trabalho

CLÁUDIA RIBEIRO MESQUITA
DA REPORTAGEM LOCAL

"Um por todos e todos por um" é um lema que também pode ser aplicado no trabalho. A amizade, um dos componentes desse pacto, tem o poder de melhorar a qualidade e produtividade nas organizações.
"Quanto mais amigos os profissionais forem entre si, maiores as chances de a empresa crescer", diz Roberto Shinyashiki, 42, psiquiatra do Instituto Gente, de desenvolvimento organizacional.
Para ele, o insucesso de muitos programas de qualidade no Brasil deve-se à falta de amizade e comunicação entre as pessoas.
O trabalho é um local importante de sociabilidade. "A amizade é favorável do ponto de vista do rendimento e da saúde mental", avalia a psicóloga Maria José Tonelli, 40, da Fundação Getúlio Vargas.
Além de reduzir o estresse, a amizade no ambiente de trabalho permite, por exemplo, encarar a segunda-feira como uma oportunidade de reencontrar os amigos.
Mas, segundo consultores de recursos humanos, é frequente que as relações não sejam autênticas.
A aparente amizade muitas vezes é um trampolim para obter promoções ou para garantir o emprego. Há ainda riscos de corporativismo, quando interesses de grupo se sobrepõem aos da organização.
"Esse comportamento se verifica em cerca de 60% das empresas", estima Cláudia Lessa, 47, consultora organizacional.
Outro obstáculo às relações afetivas é a competitividade interna. Há empresas que ainda adotam o modelo de administração que estimula só a competição como fonte de energia produtiva.
"A 'amizade' manipulativa é perigosa. Trata-se do egoísmo compartilhado", afirma Jean Bartoli, 44, que também atua em consultoria organizacional.
Para ele, o fundamento da amizade verdadeira é a confiança recíproca, um valor que permite o aprimoramento de pontos falhos.
Segundo Cláudia, é atribuição da empresa controlar os relacionamentos entre funcionários e zelar para que não sejam naturais, mas funcionais. "A idéia é manter os relacionamentos em níveis saudáveis e equilibrados", afirma.
Para Simon Franco, 55, que trabalha com executivos de alto escalão, a amizade é desnecessária no trabalho. "O importante é a valorização da cordialidade, da ética e da transparência", diz ele.

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