São Paulo, domingo, 10 de julho de 1994
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Na torcida, brasileiros vencem por 10 a 2

DOS ENVIADOS A DALLAS

Os torcedores brasileiros enfrentaram os holandeses ontem, antes da partida, em um gramado na frente do estádio Cotton Bowl. Embora fosse proibido pisar na grama, os policiais não reprimiram a torcida.
Os brasileiros ganharam a pelada por 10 a 2. Mas o jogo não respeitou as regras tradicionais do esporte. Os brasileiros tiveram 15 jogadores em seu time. Os holandeses, apenas 8.
O jogo durou cerca de uma hora. Quando os dois times ainda tinham o mesmo número de jogadores –nove contra nove–, a Holanda vencia por 4 a 1.
Ao lado da partida, um grupo de torcedores de Socorro (SP) fazia protesto contra o técnico Carlos Alberto Parreira.
Uma faixa trazida por eles tinha a inscrição "Jesus, ilumine a cabeça de Parreira –Caipiras de Socorro, onde ainda se vive".
O grupo tinha oito pessoas. Usavam todos um chapéu de material plástico azul, com uma circunferência de um metro de diâmetro.
"Compramos o chapéu porque era a única cor que faltava. Agora estamos de verde, amarelo, azul e branco", disse Jorge Fruchi, 60, um dos coordenadores dos autodenominados "caipiras de Socorro".
A torcida brasileira não fazia manifestações ostensivas contra os jogadores. Apenas o técnico Parreira era o alvo dos descontentes com o time.
Um grupo de paulistanos coordenado por Carlos dos Reis, 70, preparou a faixa "Parreira burro" para pendurar nas arquibancadas no Cotton Bowl.
"O cara que escala Branco e Zinho só poderia ser burro", reclamava Reis.
Os torcedores brasileiros que comparecem aos jogos do Brasil não o fazem de forma coordenada. Os grupos são sempre pequenos, variando de três a dez torcedores para cada grupo.
"Só a torcida contratada pela Brahma é que agita mais. Mas eles são contratados e não têm graça. A gente fica muito separado porque os lugares no estádio são aleatórios", disse Sidney Uejima, 19, de São Paulo.
Uejima e dois colegas –Ricardo Nogueira e João Paulo Mott, ambos de 20 anos– entraram no estádio ontem com perucas verde-amarelas e uma banana inflável de plástico.
Um grupo de brasilienses se fantasiou de árabe, nas cores verde e amarelo. "Tem de tudo em Brasília. Só faltava 'sheik"', disse Guilherme Siqueira, 58.
"Por favor, escreva aí no seu jornal que a Fifa (órgão que controla o futebol mundial) não dá a mínima para os brasileiros. Eu não sei nem contar até três em inglês e ninguém da Fifa sabe português", reclamou Siqueira.
Uma jovem torcedora estava visivelmente nervosa. Era Carolina Meirelles, 14, que chegara a Dallas na véspera, procedente Rio. Tinha medo de que uma derrota brasileira ("Lá no Brasil está todo mundo pessimista") lhe valesse a fama de pé-frio.
O pai de Carolina, o economista Victor Meirelles, 42, tinha prometido à filha que levaria a menina aos EUA, caso o Brasil passasse das oitavas-de-final. Ela viajou na companhia de sua amiga Janaína, filha de Jairzinho, o das Copas de 66, 70 e 74.
Muitos torcedores adquiriram ingressos na hora, alguns a preços mais baixos do que os oficiais. Dependendo da localização, custavam de US$ 80 a 150.
Integrantes de um grupo de Goiânia reclamavam da CBF. Alguém os informara que a entidade comprara 10 mil ingressos de cada jogo para vendê-los mais baratos às torcidas organizadas brasileiras. O fato é que desde 1974 a CBF não compra ingressos para passá-los, de graça ou não, a grupos brasileiros. Na época, comprou 30 mil pacotes e só vendeu 3 mil.

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