São Paulo, domingo, 10 de julho de 1994
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"Milagre" de Baggio leva Itália à semifinal

SÍLVIO LANCELLOTTI
ENVIADO ESPECIAL A BOSTON

'Milagre' de Baggio leva Itália à semifinal
Meio-campo marca 2º gol sobre a Espanha aos 42min do 2º tempo; equipe enfrenta vencedor de Alemanha e Bulgária
Sem pernas e sem nenhum conjunto, o coração literalmente na boca, a seleção da Itália de novo produziu um grande milagre. Ontem no estádio de Foxboro, sede de Boston, ganhou da Espanha por 2 a 1 e, no sufoco, se qualificou às semifinais da Copa dos EUA. A equipe enfrenta agora o vencedor de Alemanha e Bulgária na quarta-feira, em Nova York.
Como no cotejo diante da Nigéria, o gol da consagração aconteceu aos 42min da etapa derradeira no único lance de efetivo brilho da "Azzurra" e de seu astro mais famoso, Roberto Baggio.
A Espanha não mereceu o resultado. Pouco antes do tento de Baggio, entre os 38min e os 40min, os seus jogadores desperdiçaram quatro chances consecutivas –três delas evitadas por intervenções admiráveis do goleiro Pagliuca.
Arrigo Sacchi teve culpa no sofrimento da "Azzurra". No primeiro tempo, a Itália apareceu melhor, embora errasse muitos passes no meio do campo e aceitasse, passivamente, a vigorosa pressão do elenco de Javier Clemente.
Antes mesmo dos 20 minutos, sempre nas contra-ofensivas em profundidade, o time de Sacchi levou perigo quatro vezes ao arco de Andoni Zubizarreta. Então, aos 23min, num raro momento de conscência de Roberto Donadoni, Dino Baggio recebeu um passe lateral e, de 27m, acertou o ângulo de Zubizarreta, "Azzurra" 1 a 0.
Estranhamente, apesar da vantagem no marcador, a seleção de Sacchi não se safou das suas tensões. Pior, o seu meio-campo passou a cometer erros.
Mais assentada, com Jorge Otero e Juan Andoni Goicoechea em sucessivas incursões pela direita, a Espanha imediatamente assumiu o comando do combate. Ocorreu, daí, o erro crucial de Sacchi.
Corretamente, o mister mandou que Signori se aquecesse -a entrada do ala serviria para conter as descidas de Otero. Equivocadamente, todavia, Sacchi sacou do time o firme Demétrio Albertini em vez de retirar o morno Donadoni.
No segundo tempo, a "Fúria Ibérica" melhorou ainda mais liderada por uma atuação magnífica do seu zagueiro Migel Angel Nadal, o artista da peleja. Ocorreu com justiça o tento da igualdade, aos 15min. Signori errou, infantilmente, um passe de ataque e ficou parado. Nadal recuperou a pelota e carregou a Espanha à frente com um lançamento até Otero.
O cruzamento caiu no pé direito de Caminero, que chutou sem força. A bola desviou em Paolo Maldini, entrando sem chance de defesa para Pagliuca.
Desesperado, na borda do campo, Sacchi pedia à "Azzurra" que não concedesse mais espaços à "Fúria". Os seus rapazes, no entanto, mal se locomoviam, exaustos, estáticos, moralmente batidos.
Sacchi ainda tentou reacender o time com a entrada do fogoso Nicola Berti na posição de Conte.
Quem não faz, toma, diz um velho provérbio do futebol. Uma rebatida de Maldini caiu nas redondezas de Signori, no lado canhoto quase sobre a linha divisória do campo. Signori lançou Roberto Baggio, em diagonal, 40m adiante.
Com um drible de corpo, Baggio se desvencilhou de Nadal, deixou Zubizarreta no chão e, do ângulo da pequena área, empurrou a pelota. Nadal, desafortunado, na linha da meta, por um triz não evitou os 2 a 1.
Nos minutos restantes, os três normais e mais seis de acréscimos, a "Azzurra" se limitou a dar chutões -e a rezar. Ontem, no Foxboro, Deus foi italiano.

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