São Paulo, domingo, 10 de julho de 1994 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
"Time nunca foi tão formidável"
DO ENVIADO A SAN FRANCISCO 'Time nunca foi tão formidável'O técnico da seleção da Romênia, Anghel Iordanescu, 40, procura disfarçar, mas seu assunto preferido é sempre a vitória. A começar pelo seu currículo: como jogador, marcou 150 gols em 300 jogos disputados pelo Steaua de Bucareste, de 68 a 82. O tema continuou antes da Copa, quando Iordanescu surpreendeu ao afirmar que a Romênia (time que nunca havia passado das oitavas-de-final) ficaria entre os quatro finalistas do Mundial. "Por enquanto estou com a razão", brinca o técnico que, com um estilo tático agressivo e irregular, conseguiu o melhor ataque das eliminatórias (29 gols) e também uma das piores defesas (12). Apesar de arriscado, o estilo reflete o momento do futebol romeno, lutando contra a penúria provocada pela queda do regime comunista, cujo exército sustentava integralmente os clubes.(UB) Folha - O senhor realmente acredita que tem chances de ficar entre os quatro finalistas? Anghel Iordanescu - Sei que é difícil, mas também tenho confiança no time: nunca formamos uma seleção tão formidável como essa na Romênia. Só isso me deu muitas esperanças antes da Copa. Folha - Mas a equipe é irregular, alterna momentos brilhantes (a vitória por 3 a 2 sobre a Argentina) com outros péssimos (a derrota para a Suíça por 4 a 1)... Iordanescu - Sim, mas se analisarmos a preparação que tivemos, estamos fazendo um ótimo papel. Desde a revolução que derrubou o regime comunista, o futebol romeno entrou em decadência. Os principais jogadores foram para o exterior, o que atrapalhou a preparação para a Copa. Só tive o time completo em apenas um jogo. Folha - E como o senhor tentou resolver o problema? Iordanescu - Principalmente com muita conversa. O Hagi, por exemplo, nosso principal jogador, foi muito mal contra a Suíça. Disse isso a ele que, depois de fazer uma auto-análise, evoluiu contra a Argentina: fez um gol e deu um passe brilhante para outro. Folha - É esse trabalho psicológico que traz os resultados? Iordanescu - Acredito que sim. O time vem sabendo como reagir bem. Veja contra a Argentina: o adversário começou muito bem, mas nós fizemos o primeiro gol. Então eles empataram, mas marcamos outro. Ou seja, o time não perdeu o equilíbrio. Folha - A vitória não criou uma euforia exagerada? Iordanescu -Não. Conversei com eles para esquecerem o jogo e só pensarem na Suécia. Mas deixei o time saborear a vitória, que foi importante. Afinal, todo o povo romeno estava comemorando. Conversei com alguns amigos e me contaram que um milhão de pessoas saíram às ruas para vibrar. Parecia até que outra revolução estava acontecendo! Folha - Como tem sido a influência da política no futebol? Iordanescu - A nova situação política tem sido favorável. No sistema antigo, os jogadores não podiam cultivar sua própria personalidade ou valorizar sua imagem. Agora todos têm chance de mostrar seu talento. O problema é que, com a difícil situação econômica, a maioria vai jogar em outros países, que pagam melhor. Folha - Qual a importância do atacante Hagi para a equipe? Iordanescu - Não gosto de fazer distinções –ele é mais um na equipe. Mas não posso esconder que ele é vital para o funcionamento do nosso ataque, principalmente com suas jogadas inesperadas. Acredito que ele é tão importante para a Romênia como o Maradona foi para a Argentina ou o Cruyff foi para a Holanda. Texto Anterior: "Timidez dificultou adaptação" Próximo Texto: QUEM É HAGI Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |