São Paulo, domingo, 10 de julho de 1994
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No Texas, a carne reina inconteste

DAVID DREW ZINGG
EM DALLAS

Se San Francisco é a cidade que faz o brasileiro sentir orgulho em ser brasileiro, Dallas é o lugar que faz o brazuca sentir-se mexicano. E "mexicano", no Texas, não é exatamente um termo indicativo de carinho.
Dallas continua a ser um lugar esquisito, cheio de pessoas estranhas. O pessoal daqui chama todo mundo de "boy".
Antigamente tinham o hábito de chamar seus escravos de "boy", de modo que você pode ter uma leve idéia de onde se situam seus valores sociais desse pessoal.
Tio Dave está muito longe de ser "politicamente correto", mas o fato é que este Estado exala um leve aroma de intolerância.
Peguei um ônibus do aeroporto até o Dallas Grand Hotel (que parece fruto de um pesadelo de Oscar Niemeyer).
O chofer, um jovem e culto imigrante paquistanês com pele da cor de azeite de oliva, me disse que é impossível para ele conseguir um emprego de piloto de linha aérea aqui. "É devido à cor da minha pele", disse ele.
O Texas é o Estado da carne. Sangue e cartilagem forjaram a fronteira; a carne deu aos caubóis sua coragem animal.
O caráter texano é grelhado no carvão e depois mergulhado em molho picante para churrasco Bar-B-Q.
Os maricas amantes de salada podem cortar grama e comê-la no almoço, se assim quiserem –os texanos preferem alcatra.
Os vegeterroristas podem dominar em outras partes deste mundão, mas no Texas é a carne que reina inconteste.
Se você acha que estou brincando, Joãozinho, que tal sair comigo de carro até Amarillo, Texas, em busca de uma refeição modesta.
O nome do restaurante é The Big Texas Steak Ranch, e seus proprietários fazem o possível para não desmentir o nome.
Esta instituição de beira de estrada oferece um minúsculo bifinho pesando apenas 2 kg. Se você conseguir comer inteiro, não paga nada. E de quebra ganha uma pequena lavagem intestinal.
Outra razão pela qual o futebol jamais irá se popularizar no Texas: se você chutar uma bola de "soccer" com aquelas botas pontudas de caubói, vai acabar fazendo furos na coitada.

Tradução de Clara Allain

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