São Paulo, domingo, 10 de julho de 1994
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O segredo do sucesso está na tranquilidade

JOHAN CRUYFF
ESPECIAL PARA A FOLHA

Por que a Colômbia decepcionou a todos nesta Copa? Por que Camarões fracassou de forma estrondosa e, no final, foi destroçado pela Rússia? Por que a Argentina pareceu se descompor depois do doping de Maradona?
Estas e outras perguntas remetem à eliminação de algumas seleções nesta Copa do Mundo. Talvez não haja uma causa determinante, mas vários fatores que se convertem nas gotas d'água que acabam por fazer o copo transbordar.
Uma resposta está em uma palavra: tranquilidade. Num Mundial, esta palavra tem um significado determinante. A tranquilidade pode levar uma equipe ao título ou pode destroçá-la no caminho.
Num grupo de 30 pessoas, entre jogadores, técnicos, médicos e massagistas, que devem conviver durante tanto tempo, surgem problemas diariamente.
A Colômbia chegou ao Mundial com a pressão de mil ameaças que acabaram por desconcentrar o grupo.
Aos jogadores de Camarões, sua federação devia dinheiro. Naturalmente, esse detalhe acabou com a unidade do grupo.
A Argentina parecia forte, imbatível, com Maradona. Mas toda a tranquilidade acabou de repente. Chegaram as dúvidas, o nervosismo, as interrogações. Antes que a equipe pudesse reagir, tudo já havia acabado.
Como profissional, jogador e técnico, creio que a única saída é se fechar com o grupo. Não deixar que ninguém entre, viver quase à margem de tudo e não permitir que nada nem ninguém quebre a unidade.
Todos, absolutamente todos, têm que estar unidos. E mais: sempre tem de haver alguém capaz de mandar, dirigir e impor a linha a ser seguida. Alguém que o grupo considere o líder e que tome para si a responsabilidade nas decisões.
Por último fica a imprensa. Sua força pode acabar desestabilizando tudo. No Mundial de 82, os italianos queriam matar Enzo Bearzot porque a primeira fase da Itália foi um desastre.
Logo tudo mudou e a imprensa da Itália colocou Bearzot no céu, porque ele ganhou.
Com os anos aprendi algo que alguns jornalistas deveriam lembrar. Sempre é necessário esperar o final para ditar a sentença. Caso contrário, corre-se o risco de cair no ridículo.

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