São Paulo, domingo, 10 de julho de 1994
Texto Anterior | Índice

Brasil mostrou que tem vontade de vencer

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DA REVISTA DA FOLHA

Foi o primeiro jogo de gente grande e o Brasil mostrou que apesar dos defeitos de seu treinador tem time para chegar à final. O 3 a 2 contra a Holanda revestiu-se daquela dramaticidade que só jogos de Copa são capazes de criar.
Claro que o Brasil colaborou para a taquicardia nacional ao deixar os holandeses chegarem ao empate depois de um vantagem de 2 a 0. Um meio de campo cansado –que pedia um jogador novo– e um goleiro hesitante na saída de gol facilitaram a reação da Holanda. Só com o 2 a 2 Parreira lançou Raí. Venceu da maneira que gosta –no aperto.
Foi, de qualquer forma, uma bela exibição de um grupo de jogadores que, depois do sangue e do suor vertidos naquele segundo tempo contra os Estados Unidos, parece ter assumido profundamente a vontade e a responsabilidade de vencer.
Esta atitude ficou clara no final do primeiro tempo, quando o time, de uma maneira que ainda não havia mostrado nesta Copa, saiu francamente para o jogo –chegando ao gol holandês numa empolgante jogada de pé em pé, que terminou com um passe precioso de Romário para a conclusão desequilibrada de Aldair.
Naquele momento o Brasil mostrou que poderia impor-se e ganhar o jogo. Voltou para o segundo tempo com a mesma disposição e fez o gol –uma pequena pintura aquela conclusão de Romário. A laranja abriu-se, desconcentrou-se, e o circo estava armado para uma vitória larga. O segundo gol, de Bebeto, pareceu a todos ser o golpe final na seleção holandesa. O punhal no coração.
Mas não foi.
O meio-campo morreu, a Holanda cresceu e o nervosismo entrou em campo. Por alguns segundos estivemos ameaçados pelo descontrole: passes errados, bolas perdidas, entradas hesitantes.
Prevaleceu, mais uma vez a vontade. E aqui faça-se justiça à atuação de Branco, jogador com limitações, mas que ontem demonstrou a importância da experiência. O desempate do Brasil foi inteiro de sua autoria. Pegou a bola, partiu para cima, afastou no tapa um holandês, entrou no meio de dois pedindo a falta, foi derrubado e na cobrança disparou um míssil no canto..
Não apenas Branco merece ser mencionado. A de ontem foi a melhor atuação do Brasil do ponto de vista individual. Mauro Silva, Bebeto, Mazinho e Romário fizeram um ótimo jogo. Mauro é o nosso grande volante, Romário é, longe, nosso grande craque e Mazinho –cuja convocação para o meio-campo eu já pedia antes das eliminatórias– deu ao miolo do time um toque de inteligência e precisão. Bebeto, que começou a Copa dispersivo, vem crescendo e transformando-se numa alternativa de gol a Romário. Que funcione novamente contra Suécia ou Romênia.

Texto Anterior: Nas quartas, "joões" encaram gigantes
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.