São Paulo, domingo, 10 de julho de 1994
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TRECHOS

Sobre Machado de Assis: "Distanciado da vida, a regular e cerimoniosa distância dos amigos, afastado das forças e sugestões da terra –Machado perdeu muito desses imponderáveis que enriquecem o subconsciente do artista, mas ganhou em imparcialidade, em análise miúda e sarcástica.
(...) Se toda a natureza ensina ao homem que ele nasceu para a felicidade, como mostra Gide, o que nos cabe fazer é o esforço para denunciar e afastar tudo o que se levanta contra a passagem livre da vida. Machado, sem fé, sem confiança, parece estar a dizer que o mal é inevitável, que a dor e só a dor é própria da condição humana".
Sobre Goeldi: "Certa noite, há mais de 20 anos, numa casinha da Tijuca, chamava-me de fora uma voz irreconhecível no rumor da chuva. Abri de mau humor a janela. As rajadas de vento no rosto e a escuridão impediam-me identificar de pronto o vulto estacionado na calçada. Foi graças a um relâmpago mais demorado que distingui a figura de meu amigo. Sobre os ombros mal protegidos pela capa caía-lhe água das goteiras do chapéu desabado. Outro relâmpago e o seu perfil de ave de rapina desenhou-se mais nítido.
"(...) Depois de meses e anos sem dar notícias, Goeldi reaparecia inopinadamente, sem dizer por onde andara nem que aventuras vivera. Apenas o pacote cheio de desenhos informava como preenchera ele suas horas de solidão".

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