São Paulo, domingo, 10 de julho de 1994
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Belo Horizonte comemora centenário do autor

BERNARDO CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O centenário de Aníbal Machado será comemorado este ano com uma exposição, em agosto, no BDMG Cultural, em Belo Horizonte. Um vídeo sobre a vida e a obra do autor está sendo realizado por Eliane Terra e Karla Holanda, com Rubens Correa, e a cineasta Sandra Kogut está terminando um filme baseado no conto "Monólogo de Tuquinha Batista".
Aníbal Machado escreveu contos hoje célebres, como "Tati, a Garota", um romance ("João Ternura") e muitos textos dispersos.
Em "A Arte de Viver", há textos, como "Ah, Solta o meu Ludovico!", que lembram Kafka –ou o suíço Robert Walser. Há outros, como "ABC das Catástrofes", que lembram os aforismos do francês Maurice Blanchot –com mais humor.
Aníbal Machado dominava bem o humor em suas várias modalidades. Não hesitava em rir de si mesmo –uma qualidade muito rara entre escritores brasileiros. Também podia discorrer com extrema clareza sobre as diferenças entre Carlitos e os irmãos Marx.
"Carlitos é o coração contra as razões de Estado. Para os irmãos Marx, não há Estado nem coração, nem muito menos razões de Estado. (...) Embora usando valores cômicos diferentes, souberam os quatro formular um pensamento comum de não aceitação das formas usuais de viver", escreve em ensaio incluído nesta coletânea.
Em praticamente todos os textos de "A Arte de Viver", sejam aforismos, críticas ou textos autobiográficos, há um humor discreto que também parece buscar uma "forma não-usual de viver".
Tudo gira em torno da preocupação com a construção de uma forma de vida mais digna, um trabalho estético feito sobre si mesmo no culto da amizade e de valores como fidelidade e generosidade. O próprio autor é a matéria em que se realiza esse trabalho estético. É ele, também, a expressão mais exemplar dessa obra.

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