São Paulo, domingo, 10 de julho de 1994
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GISELDA LEIRNER - Sonhos e pesadelos revisitados

GEORGE ALONSO

GISELDA LEIRNER
Sonhos e pesadelos revisitados
Faz tempo que a premiada artista plástica Giselda Leirner, ex-aluna do pintor Di Cavalcanti, perdeu o medo de suas próprias dores. Só agora, porém, pôde expô-las em grande estilo: numa retrospectiva com 120 desenhos produzidos entre os anos 50 e os 90. Quem visita sua mostra em São Paulo se torna íntimo e cúmplice dos sonhos da desenhista e, principalmente, de seus múltiplos pesadelos.
A exposição, instalada na Pinacoteca do Estado e batizada de "Babel", está dividida em quatro blocos –dois deles com títulos inspirados na "Divina Comédia", de Dante. Em "A Cidade da Dor", a figura humana –com suas expressões de medo, aflição e tristeza– marca as obras, como no desenho (48 cm x 67 cm) em crayon e nanquim que insinua a dualidade do parto, a dor que gera a vida (foto).
Já os trabalhos reunidos sob a vinheta "O Desenho, O Olhar e O Olho" são menos dolorosos, mais orgânicos, ligados à natureza. Resultam do período em que ela morou na tranquila Campos do Jordão (SP), em meados da década de 70. Em "Torre de Babel", desenhos maiores, salpicados com sutis toques de cor, parecem refletir o labirinto metafísico da desenhista, graduada em filosofia pela USP em 1973. Ao penetrar em "Vamos Descer Agora ao Cego Mundo", o olho vai ao inferno.
Nascida em 1928, paulistana filha de poloneses, Giselda estreou no lápis aos 9 anos, numa casa na Luz –por coincidência, o mesmo bairro da Pinacoteca. Participou de Bienais, morou em Nova York e Paris (onde estudou sociologia da arte, com Pierre Francastel). Casou duas vezes e tem dois filhos.
A mostra –que não segue critérios cronológicos e exclui a fase geométrica de 1978, renegada pela artista– acaba domingo, 17. Giselda continua. "Vou morrer desenhando."

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