São Paulo, domingo, 10 de julho de 1994
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Cláudia Abreu interpreta mais uma personagem politicamente correta

MARCELO MIGLIACCIO
DA SUCURSAL DO RIO

A atriz Cláudia Abreu, 23, está às voltas com um novo desafio: interpretar Alice, "uma garota feliz e bem resolvida", em "Pátria Minha", próxima novela das oito da Rede Globo.
"Optei pelo frescor e pela espontaneidade, mas não é fácil. Ela tem 17 anos e ainda não assimilou o mundo para ter conceitos formados sobre as coisas. Sua simplicidade desconcerta", diz.
Alice é uma das figuras centrais da trama de Gilberto Braga, o autor da novela que substituirá "Fera Ferida" a partir do próximo dia 18.
Filha de Natália (Renata Sorrah), ela não conhece o pai e também não tem problemas com isso. "A mãe é genial e jogou limpo. Disse até que o pai não a queria e que sugeriu um aborto".
O pai de Alice é um dos mistérios da novela, já que está entre os personagens da trama. Cláudia já sabe quem é, mas não conta de jeito nenhum. "Estraga o mistério", diz a atriz.
A sina da garota, porém, é outra: bater de frente com o milionário inescrupuloso Raul (Tarcísio Meira) e travar com ele o principal duelo da novela. Será ele o pai canalha? Ela se cala.
Em seguida, diz que Alice se parece com algumas garotas que conhece, e até mesmo com ela. "É algo próximo de mim e por isso não quero compor demais nem simplesmente falar o texto."
"Ela tem algo de criança ao reagir naturalmente às coisas que lhe acontecem. Claro que ninguém é tão sem mistérios assim, mas falo pelos 12 capítulos que já li", afirma a atriz.
Ainda presente na memória de muitos como Heloisa, a "peruinha" que se transformou em revolucionária na minissérie "Anos Rebeldes", Cláudia não vê semelhanças entre os dois papéis.
"Alice é mais serena que Heloisa e também não tem aquela determinação que esta adquiriu depois do engajamento político", compara.
Mas para a maioria das pessoas nas ruas, Cláudia ainda é Clara, personagem que interpretou em "Barriga de Aluguel", sua última novela, há quatro anos.
"O povão mesmo não via 'Anos Rebeldes', que passava às 23h30 por causa das Olimpíadas. Até hoje me chamam de Clara quando saio", conta.
Clara gerava o filho de outra mulher em troca de um punhado de dólares e marcou muito a carreira de Cláudia. "Foi até bom pegar a Alice agora que estou numa fase de buscar prazer absoluto no trabalho".
Prazer mesmo, ela conheceu durante o ano passado, quando se autoconcedeu férias. "Fui fazendo um trabalho atrás do outro e achei que tinha que dar uma parada", explica.
Parou com o trabalho, mas não ficou à toa. Viajou para a Europa, estudou filosofia, inglês, francês, canto lírico, sax e ainda posou de "mulherzinha" para o marido, o também ator Guilherme Fontes –que atualmente interpreta Alexandre na novela das sete, "A Viagem".
Os dois namoram há cinco anos e moram juntos há quatro. "Nós fugimos da associação artística de nossas carreiras. Nosso único laço é o amor e, se um dia este acabar, ninguém deve nada a ninguém", diz Cláudia.
A receita, segundo ela, é justamente a vida profissional intensa de cada um. "A gente dá certo por isso. Cada um tem seu trabalho, eu viajo, ele também. Não tem aquela rotina".
A única exceção aberta foi em 93 para uma atuação em "O Mambembe", especial dirigido por Guel Arraes para a "Terça Nobre". "Sempre tive vontade de trabalhar com ele e valeu a pena".
A parada foi estratégica para recarregar a bateria, que começou a ser gasta aos 14 anos, quando fez sua primeira peça teatral.
Nascida no Leblon (zona sul do Rio de Janeiro), Cláudia não parou mais. Fez comerciais, peças e entrou para a televisão, onde a carga de trabalho se multiplicou.
Afeita a desafios –"quem tem medo vai ficar sempre numa mesa de bar dizendo que faz e acontece"– Cláudia foi emendando personagens. "Sou severa na autocrítica e vi que não estava rendendo o que podia", conta.
O auge do esgotamento aconteceu na peça "Viagem ao Centro da Terra", quando tinha "vontade de pedir desculpas ao público quando terminava a apresentação".
Em "Um Certo Hamlet", Cláudia mergulhou nos conflitos existenciais na pele do personagem principal –masculino– e diz que não se arrependeu.
"Ou pagava um mico (passava vergonha) ou seria no mínimo curioso, mas gostei de não ter dado ouvidos ao receio de parecer pretensiosa", diz.
Na montagem, foi dirigida por um de seus mestres, Antônio Abujamra. "Ele me disse coisas importantes, me emprestou livros. Foi fundamental a direção dele".
Cláudia considera tanto "Hamlet" quanto "Anos Rebeldes", marcos em sua carreira. "Não é sempre que se pega personagens como aqueles".

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