São Paulo, segunda-feira, 11 de julho de 1994
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Para Branco, luta pela posição continua

JOÃO MÁXIMO; MAURÍCIO STYCER
DOS ENVIADOS ESPECIAIS

Houve um momento em que Branco, 30, pensou ter acabado para a seleção: foi quando Carlos Alberto Parreira escalou Leonardo em seu lugar, para o jogo de estréia com a Rússia.
O renascimento, segundo ele, veio no lance que decidiu a partida de sábado com a Holanda: o tranco no adversário, a bola dominada na direção do meio da área, a falta cavada e, segundos depois, o chute forte e rasteiro que tocou na trave e entrou.
O lateral –titular absoluto de Parreira desde que este assumiu o comando da seleção, em outubro de 1991– acha que, tão logo foram anunciados os 22 para a Copa do Mundo, foi perseguido por uma parte da imprensa.
Muitos queriam Leonardo como titular. Outros pediam Roberto Carlos para a reserva. No seu primeiro exame médico, na Aeronáutica, houve quem dissesse que ele fora reprovado.
Uma sofrível temporada pelo Fluminense, duas contusões seguidas, a perda de ritmo de jogo, a falta de fôlego, tudo isso contribuiu. Agora, a história parece mudar.
Horas antes de voar de Dallas para Los Angeles, Branco deu esta entrevista à Folha. (JM e MSy)

Folha - Depois do gol, você fugiu dos companheiros, correu para o banco e abraçou o Dr. Lídio Toledo. Por quê?
Branco - Queria que fosse para ele o meu primeiro abraço. Muita gente me apoiou em meus momentos difíceis na seleção, a comissão técnica, os companheiros e, principalmente, o médico. Eles se empenharam muito para que eu continuasse aqui. Confiaram em mim.
Folha - Alguém mais o apoiou?
Branco - Sim, Estela, minha mulher. Ela veio do Brasil para ficar perto quando eu precisava.
Folha - E quem foi contra você?
Branco - Não quero falar nisso.
Folha - Por que batizou seu gol de "cala-boca"?
Branco - Porque, com ele, os que me criticaram tiveram que calar a boca. Havia gente que não me queria nem entre os 22.
Folha - Acredita que a lateral esquerda tenha voltado a ser sua?
Branco - Não sei. Acho que a luta pela posição continua. Numa boa. Estamos todos trabalhando, treinando sério. Vai entrar em campo aquele que, no dia do jogo, o técnico achar que está em melhores condições. Na partida com os EUA, entrou o Cafu, que estava melhor condicionado que eu para aquele tipo de jogo.
Folha - Você tem fôlego para correr 120 minutos, caso o Brasil vá para uma prorrogação nos próximos dois jogos?
Branco - Estou treinando para isso. Saí do time por causa de uma contusão. Tenho que voltar jogando, não apenas treinando. É assim que se recupera o ritmo. Sou um jogador experiente, com duas Copas nas costas. Esta é a minha terceira. Já sei como marcar o adversário e correr o campo todo dosando energia.
Folha - Você fez um pênalti segurando um holandês pela camisa. O lance do seu gol nasceu de uma falta que você fez. O que diz disso?
Branco - Experiência. Na briga pela bola dentro da área, a gente não pode ir no macio. Ali é uma guerra. Todo mundo empurra todo mundo. Já no lance antes do gol, eu realmente mandei meu braço em cima do holandês para me livrar dele. E me livrei.
Folha - Como cavou a falta? E o gol?
Branco -Senti que dava para correr para o meio da área, com o holandês me perseguindo. Tratei de proteger a bola, sabendo que ele faria a falta. Não deu outra. Eu caí, fiquei rolando, aos berros, na esperança de que o juiz expulsasse o cara. Não colou.
Folha - O que pensou na hora da cobrança?
Branco - Palavra de honra, eu olhei para o relógio, 35 minutos... Eu pensei comigo mesmo: "Tenho que botar essa lá dentro".
Folha - Você cobrou quatro faltas, uma por cima, a segunda defendida pelo goleiro, a terceira na barreira e, finalmente, a do gol. Por que só você bateu, se não vinha treinando?
Branco - Estou cansado de treinar cobrança de falta. Se você notar, fui baixando a direção, uma alta, outra mais baixa, outra mais a meia altura. Na quarta cobrança, tive em mente que o goleiro deles era um cara alto, bom nas bolas por cima. Foi assim que decidi bater rasteira.
Folha - Jornalistas europeus estranham que, sendo você titular da seleção, os clubes italianos não o tenha segurado por lá. Como explica isso?
Branco - Problema dos clubes italianos. No momento, só estou pensando em ganhar a Copa.
Folha - E o time holandês?
Branco - Muito bom. Este foi o nosso melhor adversário. Para muita gente, foi o melhor jogo da Copa até agora.
Folha - Já está se sentindo campeão?
Branco - Que é isso? Ainda faltam dois jogos e, daqui para frente, tudo é decisão.
Folha - Quem prefere enfrentar na final?
Branco - Qualquer um.

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