São Paulo, segunda-feira, 11 de julho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bulgária vira e vence a favorita Alemanha

SILVIO LANCELLOTTI
ENVIADO ESPECIAL A EAST RUTHERFORD

Desde que se reconstruiu da Grande Guerra e disputou o seu primeiro Mundial, a Alemanha só não participou da fase das semifinais em duas ocasiões: no Chile/62 e na Argentina/78.
Quer dizer, longe do seu continente. Dezesseis anos depois do seu último fracasso, o martírio se repetiu –na Copa dos EUA.
E a tragédia aconteceu de maneira particularmente dolorosa, no Giants Stadium de East Rutherford, Nova Jersey, 2 a 1 em favor da zebríssima Bulgária, uma presa a quem a seleção tedesca já considerava devorada pela tradição.
Pior: embora com muita lentidão, a Alemanha saiu à frente no placar, dominou as ações de meio-campo, obrigou o arqueiro inimigo a pelo menos três defesas magistrais –mas perdeu o jogo na contra-ofensiva da rival.
Mais justa seria a igualdade no placar e a decisão numa prorrogação ou na disputa de penais.
Na etapa inicial, a Alemanha e a Bulgária desperdiçaram igualmente duas chances. Logo aos 4 minutos da derradeira, porém, o volante Iordan Letchkov derrubou Klinsmann dentro da área da Bulgária e o árbitro Torres Cadena, um colombiano discreto e eficiente, apontou a marca fatal.
O capitão Lothar Matthaeus cobrou impecavelmente, no canto esquerdo do arqueiro Borislav Mikhailov, que se atirou no outro.
A Bulgária, todavia, não se entregou. Pelo contrário, apesar da incansável movimentação de Thomas Haessler, foi a Alemanha que se desorganizou. Krassimir Balakov paulatinamente se transformou no senhor do combate.
Então, aos 12min, ocorreu o episódio que inverteu o panorama da peleja –e da Copa. Depois de um cruzamento do lateral Tzanko Tzvetanov, na briga pela pelota se chocaram as cabeças de Nasko Sirakov e Martin Wagner, que desmaiou e saiu de maca.
Berti Vogts, o mister da Alemanha, foi obrigado a improvisar Thomas Strunz no lugar de Wagner. Lá nasceriam os dois tentos da reviravolta.
Aos 30 min, Andy Moeller derrubou o astro da Bulgária, o canhoto Hristo Stoichkov a cerca de 25 metros do arco de Bodo Illgner. O mesmo Stoichkov acertou uma irretocável folha-seca que traiu o golpe de vista de Illgner, 1 a 1.
Aos 33min, o sólido Zlatko Iankov, um preciso lançador, levantou a bola na direção da testada imparável de Letchkov, 2 a 1.
Nem mesmo o mister da Bulgária, o robusto e parlapatão Dimitar Penev, sonhava com tal encantamento, bater a segunda seleção no ranking da Fifa e nas cotações dos apostadores, atrás apenas do Brasil, na relação de 11/2.
Até o prélio de ontem, a Bulgária se limitava à 24ª colocação e à proporção de 60/1. Penev & companhia, no entanto, demoliram o mito do panzer tedesco com o prazer de quem conquista a namorada de estréia.
Até o apito de encerramento do colombiano Torres Cadena, o banco da Bulgária literalmente ensandeceu. Jogadores e cartolas exigiam, antes do tempo, o termo de alforria e de qualificação.
Stoichkov posteriormente dedicaria o seu tento à filha Micaela, que ontem completou seis anos de idade.

Texto Anterior: Alemães desperdiçam recordes
Próximo Texto: Bulgária tem que melhorar, diz técnico
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.