São Paulo, segunda-feira, 11 de julho de 1994
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Seguridad e Tacuba fazem rock mestiço

CARLOS CALADO
DO ENVIADO ESPECIAL A MONTREUX

As duas noites latinas em Montreux, no último fim-de-semana, indicaram duas tendências no atual rock cantado em castelhano. Se Fito Paez, Miguel Bosé, Maná e Presuntos Implicados mostraram um pop mais próximo do padrão internacional, o espírito mais underground é mantido pelas bandas Seguridad Social e Café Tacuba.
Ao dividir o palco da sala Miles Davis com as bandas suíças Gotthard e Patent Ochsner, as duas deram um banho de garra e originalidade, misturando seus ritmos locais com o rock, numa verdadeira mestiçagem musical.
"Em 82, quando começamos, houve na Espanha uma explosão pós-punk", disse à Folha o carismático José Casan, vocalista e líder da banda espanhola Seguridad Social. "Acabamos ficando conhecidos como os irmãozinhos do The Clash. Nos identificamos com eles pela abertura frente a qualquer coisa, sem cair na esquizofrenia."
Mesmo somando outros ritmos e estilos ao rock, como o hip-hop, o reggae e até a rumba e o calipso, o Seguridad mantém até hoje sua postura punk. Uma atitude marcada por gestos duros e raivosos no palco, que impressionou bastante a platéia de Montreux. Uma banda de "machos".
"Já gravamos uma faixa em inglês e, na medida do possível, vamos voltar a fazê-lo", diz Casan, consciente da barreira da língua no mercado internacional. "Por enquanto, temos o cuidado de incluir as letras traduzidas no encarte de nossos discos". O último álbum da banda, "Fúria Latina" (Warner), foi lançado no Brasil no final do ano passado.
"Quando tocamos no Lollapalooza de Los Angeles, não chegamos a ser rejeitados, mas sentimos pouco interesse do público norte-americano pela música cantada em outro idioma. Felizmente, aqui na Europa é diferente", diz Juan, o vocalista da banda mexicana Café Tacuba, que terá seu segundo álbum ("Re") lançado em breve.
Também ligada ao chamado pós-punk, a banda surpreende não só por suas divertidas fusões de rock com ritmos dançantes típicos mexicanos, rap, techno e até polca. Esse humor também passa pelas roupas debochadas, feitas com sacos de farinha. Ou pelos bizarros chifres de cabelo na cabeça raspada de Juan, fazendo-o parecer um diabinho tresloucado.
Além das afinidades com o punk, Café Tacuba e Seguridad Social também corcordam numa coisa: a atração pela MPB e o rock produzido no Brasil. "Somos loucos pelos Paralamas, Barão Vermelho e Engenheiros do Hawaii, sem falar em Caetano e Gilberto Gil", confessa José Casan, do Seguridad.
"De alguma forma sempre quisemos produzir um tipo de música popular mexicana tão rica como a brasileira", diz Juan, do Café Tacuba. "Além do samba e da bossa- nova, adoramos o forró", diz o diabinho roqueiro.
Entre as quatro atrações da noite de sexta-feira, em Montreux, a que mais agradou a platéia foi a banda mexicana Maná. Um sucesso que pôde ser medido pela gritaria histérica das fãs. Foi junto com elas que o vocalista-galã Fher cantou boa parte do repertório da banda, baseado no rock mais pesado com pitadas de blues e reggae.
Um dos momentos mais eufóricos veio com "Donde Jugaran Los Ninos", canção ecológica que dá nome ao último disco da banda, já lançado no Brasil. No exterior, o álbum ultrapassou 1,5 milhão de cópias vendidas. (Carlos Calado)

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