São Paulo, terça-feira, 12 de julho de 1994
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Real depende do próximo presidente

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

O Plano Real é um programa de Dura até 31 de março de 1995, última data em que a emissão de moeda está limitada, por lei, a R$ 9,5 bilhões. Daí em diante tudo depende do próximo presidente.
A espinha dorsal do plano é a regra pela qual o Banco Central, BC, fica proibido de emitir reais além de determinadas quantidades. Mas a medida provisória que introdudiu o real não fixa metas para depois de 31 de março.
Assim, a partir de 1º de abril de 1995, a emissão de moeda passa a depender do Conselho Monetário Nacional, CMN, integrado pelos ministros da Fazenda e do Planejamento e pelo presidente do BC.
As três autoridades serão nomeadas pelo próximo presidente. Este, em última análise, decidirá se a emissão de reais continuará limitada ou voltará a ser livre.
A equipe econômica reconhece essa transitoriedade. Mas considera que não havia alternativa. Na verdade, membros da equipe pretendiam que a MP fixasse metas de emissão até 31 de dezembro de 1994, véspera da posse do próximo presidente.
Prevaleceu, entretanto, a opinião do presidente do BC, Pedro Malan, que insistiu em levar essas metas até 31 de março. Dá um tempo para o próximo governo.
A alternativa seria reprisar o plano de estabilização argentino. A base do programa é a lei de conversibilidade, que fixa a paridade 1 peso igual a 1 dólar.
O BC argentino é obrigado a vender e comprar dólares nessa paridade, a qualquer pessoa ou instituição, sem qualquer tipo de restrição. Assim, fica dada plena garantia de que cada peso tem lastro estável, pois pode ser convertido em dólar qualquer momento.
É a plena conversibilidade. Funciona bem há três. A inflação esperada para este ano é abaixo dos 5%. No Plano Real, o mercado de compra e venda de dólar é limitado e a paridade dólar/real pode variar por decisão do CMN.
Só em conversas reservadas os membros da equipe dão o motivo pelo qual não se adotou a plena conversibilidade: o efeito Lula. Se Lula disparasse nas pesquisas, a equipe tem certeza de que haveria uma corrida ao dólar.
Com plena conversibilidade, em poucos dias as reservas em dólar do BC teriam sido compradas por pessoas assustadas com Lula e estariam depositadas em bancos de Miami.
Por via dessas dúvidas, o plano ficou assim: amarra a moeda, derruba a inflação e entrega para o próximo presidente. Se este quiser mantê-lo, pode. Se não, também pode.

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