São Paulo, terça-feira, 12 de julho de 1994
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Está insustentável

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – O caso Bisol produziu ontem uma descoberta que beira o inacreditável –e apenas reforça a suspeita de que Lula e o PT estão encalacrados numa armadilha capaz de manchá-los não apenas nesta, mas em outras disputas eleitorais.
O advogado Luiz Eduardo Greenhalg, da cúpula do PT, fez parte de uma espécie de, digamos, comitê de julgamento do senador José Paulo Bisol. Apesar da revelação da Folha de que o senador apresentou emenda favorecendo sua fazenda, o "comitê" decidiu perdoá-lo.
A revista "IstoÉ", em sua última edição, informa que Bisol, então na condição de juiz, tomou empréstimos extremanente generosos (sem correção monetária) de um banco oficial no Rio Grande do Sul –uma mamata restrita ao Judiciário. Advinhem quem, na época, lutou na Justiça para anular o negócio, por considerá-lo uma imoralidade?
Quem respondeu Luiz Eduardo Greenhalg acertou. Portanto, se ele não mudou de posição, o advogado considera que o vice de Lula foi beneficiário de um negócio condenável. Não será difícil explicar esse fato ao eleitor. Será impossível. E vai desmontar toda a imagem de ética que o PT se esforça em passar à opinião pública.
Até ontem à noite, Bisol mandava dizer que não renunciaria. Mas a cúpula do partido já estava convencida de que Lula estava sentado na boca do canhão –o mais trágico é que seus adversários pretendem usar as próprias mãos do PT para acender o pavio.
O estrago está feito. Mas não é nada com o que virá caso não mudem o candidato a vice. O PT perde simplesmente toda e qualquer condição moral de combater o desperdício de dinheiro público.
PS – Por falar em ética, Fernando Henrique Cardoso decidiu não deixar o Senado, apesar de absorvido por sua candidatura. Traduzindo: quer manter um cargo sem trabalhar. É um péssimo exemplo, especialmente para alguém com tantas chances de virar presidente. Se ele, por acaso, receber dinheiro, o que é uma impropriedade ética vira um escândalo. Aliás, a ética vale para todos os parlamentares que ganharem sem trabalhar.

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