São Paulo, quarta-feira, 13 de julho de 1994
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Semifinal reúne 4 seleções distintas

JOHAN CRUYFF
ESPECIAL PARA A FOLHA

As semifinais estão aí. Nelas, temos só uma equipe que tem a verdadeira essência do futebol. Outra é muito forte fisicamente e bem organizada do meio-campo para trás. Uma terceira chegou até este ponto com um jogo de baixíssimo nível. A quarta seleção chega com uma inovação tática e de comportamento, o caos organizado.
Custa acreditar que a Itália tenha ido tão longe depois de passar três vezes perto da eliminação: frente à Noruega, à Nigéria e à Espanha. Os gols de Dino Baggio e Roberto Baggio colocaram a um passo da final uma equipe que não joga no ataque e que já nem é mais mestre do contra-ataque.
Que jogador, nessa equipe, é capaz de liderar o time, organizar, pensar? Nenhum. A Itália é um grupo de jogadores que deixa tudo nos pés de dois excelentes atletas, em pontos opostos do campo: Maldini, atrás de todos, e Roby Baggio, à frente. Os dois estão isolados e entre eles não há quase nada.
O rival da Itália é o mais inesperado dos semifinalistas. São os inventores do caos, onde todos avançam, cada um por si. Onde um manda, mas todos protestam e gritam. A Bulgária fez desse caos uma organização e soube aproveitar o menosprezo de seleções mais potentes.
Evidentemente, os búlgaros não são uma das quatro melhores seleções do mundo. Não podemos situá-los nem sequer entre as dez primeiros, mas agora são capazes de aspirar a tudo.
Brasil e Suécia jogarão a verdadeira semifinal. Aqui, não há dúvida, estão dois times que desde o começo demonstraram que poderiam chegar lá.
É certo que a Suécia surpreendeu, mas não como a Bulgária. Os suecos se mostraram um conjunto sério, forte e com uma boa combinação entre físico e técnica. Têm um líder em cada linha. Atrás está o goleiro Ravelli, que manda na defesa. Brolin é o dono do meio-campo e Andersson tem o "punch" para entrar na defesa rival.
Mas a Suécia é como a Dinamarca, que ganhou a Eurocopa. Não sabe atacar, não sabe ditar o ritmo de uma partida, não sabe dominar. Isso quase lhe custou a eliminação frente à Romênia. O que sabe é aproveitar as falhas dos outros. Por isso, o Brasil precisará estar preparado se não quiser ter desgosto.
Para mim, o Brasil continua sendo o favorito, ainda que lhe faltem dois duros assaltos para recuperar o título de campeão, 24 anos depois.

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