São Paulo, quarta-feira, 13 de julho de 1994
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Mau exemplo de Fernando Henrique

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Recebi ontem fax da assessoria de Fernando Henrique Cardoso, publicado hoje no Painel do Leitor, classificando de impróprio comentário desta coluna sobre sua decisão de permanecer no Senado. Rebate idéia utilizada aqui de que ele, um possível presidente da República, não deveria dar mau exemplo e manter-se num cargo público que, na prática, não vai conseguir executar.
Através de sua assessoria, Fernando Henrique afirma que seu gesto é legal. Está certo –e a questão legal nem mesmo entrou em discussão. Vai mais longe: afirma também que a decisão está baseada em princípios éticos. Vejamos.
Argumenta ser ético porque abriu de algumas das facilidades oferecidas pelo cargo. Nem todas, diga-se: ficou com o apartamento. Informa que pediu para não receber. A resposta do Senado foi simplesmente inacreditável: impossível. A lei manda pagar e pronto. Ou seja, ele tem de ganhar o salário no final do mês, apesar de não dar expediente.
Vamos reconhecer: Fernando Henrique Cardoso foi mais longe do que muitos (muitíssimos, por sinal) dos candidatos com mandato parlamentar. É rotineiro usar em abundância as estruturas pagas pelos contribuintes a favor de candidaturas. Sem contar que, aborvidos pela campanha, não pisam no Congresso.
O problema é que Fernando Henrique, ao crescer nas pesquisas, passa a ser um modelo. Num país traumatizado pela sensação de engodo, um candidato a presidente deveria dar o exemplo de rigor. Os cidadãos comuns que deixam de ir ao emprego são despedidos por justa causa.
Ele foi eleito para exercer o papel de senador e deveria colocar seu mandato a serviço da nação. Na prática, Fernando Henrique está usando o mandato para as conveniências de sua candidatura. Pode ser legal, mas não ético.

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