São Paulo, quarta-feira, 13 de julho de 1994
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Um bom remédio

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Perdido nas dobras da MP que institui o real há um artigo que tem duas qualidades: primeiro, é uma pitada de desregulamentação em um setor da economia (o da venda de medicamentos), em um país habituado, por herança colonial, a regulamentar tudo.
Segundo e melhor ainda: se as contas do governo estiverem corretas, poderá haver uma redução de até 32% nos preços dos medicamentos chamados anódinos. Ou seja, medicamentos para cuja venda não se requer receita médica e que não causam qualquer efeito colateral.
O artigo em referência libera a venda de tais remédios em supermercados, lojas de conveniência e outros pontos comerciais que não sejam as próprias farmácias, hoje detentoras do monopólio da comercialização.
Em boa parte do mundo civilizado, é isso o que ocorre. As chamadas "drugstores" vendem esse tipo de remédio e muitas delas funcionam 24 horas por dia, o que facilita enormemente a vida do consumidor. Mesmo no caso dos supermercados, que fecham entre 21h e 22h, há um tempo adicional para quem precisar fazer tal tipo de compras, na comparação com as farmácias, a maioria das quais fecha entre 19h e 20h.
Mas o mais importante na medida é, evidentemente, a redução de preços, com a ressalva de que convém primeiro esperar para ver se de fato as contas do governo estão ou não corretas.
Se houver a redução prevista, de até 32%, ficará demonstrado, por tabela, que ou há razoável ineficiência no setor de farmácias ou ganância.
É evidente que o dispositivo da MP sobre os remédios anódinos vai gerar (já está gerando, aliás) uma reação contrária. Quero ver alguém apresentar um argumento convincente contra o fato, por exemplo, de se vender aspirina em supermercado. Qualquer consumidor leva quantas embalagens quiser, em qualquer farmácia. Fazer a mesma coisa no supermercado não parece capaz de prejudicar a saúde.

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