São Paulo, quinta-feira, 14 de julho de 1994 |
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Callado faz discurso político na posse
FERNANDO PAULINO NETO
O acadêmico Arnaldo Niskier, afirmou, na festa em homenagem a Callado feita na editora Nova Fronteira, em Botafogo (zona sul), que agora é a vez de Fernando Sabino, outro arredio, e de Tom Jobim. Embora, como lembrou, "não há vagas". Para Niskier, todos têm resistências tolas, como a de Callado, que dizia não gostar de usar o fardão. "Quando a gente entra no assunto com Fernando Sabino, ele conta uma piada. Quando acabar o estoque de piadas, ele entra para a Academia." Niskier disse que com as recentes posses de João Ubaldo Ribeiro e Antonio Callado, os escritores estão conseguindo mais vagas do que os notáveis. "Tudo é coisa do momento. Notáveis e escritores têm seu espaço", afirmou. O próprio Callado, em seu discurso, procurou reforçar a importância dos dois tipos de acadêmicos. Niskier lembra que o oceanógrafo Jacques Cousteau é membro da Academie Française, "que serve de modelo para esta". Mas antes da discussão sobre assuntos internos da academia, afinal, ainda não estava empossado, Callado passeava envergando o fardão verde que sempre repudiou. Para cada abraço que recebia, ele respondia: "Vê a casaca", e, alisando o terno e gravata do interlocutor, ria e dizia: "Te invejo". Mas superada a piada do fardão, Callado fez um discurso com constantes mudanças de entonação que ressaltavam o texto, experiência conseguida "nos tempos da BBC de Londres", onde trabalhou na década de 40. Callado disse que este foi o primeiro discurso formal de sua vida. Nele o escritor conta sua vida fazendo relação com os diversos momentos políticos. Nasceu em 1917, nos tempos da primeira República. Ele segue citando a República Velha, "também chamada de República dos Carcomidos". Diz que viveu "em uma República de Tenentes". Callado segue no discurso até chegar no "chamado regime militar que o vulgo denominou ditadura. Deu lugar à República em que agora vivemos e que ainda carece de nome de pia, confirmado". A saudação ao novo membro da Academia coube a Antônio Houaiss, por designação do presidente da Casa, Josué Montello. Entre os próximos planos do escritor está voltar a mexer em um romance que já começou a ser escrito. "Preciso tomar intimidade com ele novamente", disse. Em seu discurso, Callado lembrou do romance "Esaú e Jacó", de Machado de Assis, fundador da Academia, quando citou a adivinha Bárbara, conhecida como "a cabocla", que finalizava sua premonição deixando no ar a expressão "cousas futuras". Texto Anterior: Cinemateca recebe verba de US$ 100 mil Próximo Texto: Rucki critica psicose antimoda Índice |
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