São Paulo, quinta-feira, 14 de julho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

General haitiano admite renúncia

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O general Raoul Cedras, comandante-em-chefe do Exército do Haiti, disse ontem que só renuncia ao cargo se a comunidade internacional reconhecer o governo do presidente indicado em maio por ele, Emile Joanassaint.
Cedras, 45, liderou o golpe de Estado que em setembro de 1991 depôs Jean-Bertrand Aristide, primeiro presidente escolhido em eleição democrática na história do país, oito meses após sua posse.
Nos últimos três anos, os EUA e organizações internacionais têm tentado reinstalar Aristide no poder por meio de pressões diplomáticas, boicotes econômicos e ameaças militares.
Há 14 navios de guerra dos EUA com 2.000 fuzileiros navais a bordo nas proximidades da costa do Haiti, que se situa na parte ocidental da ilha de Hispaniola (a República Dominicana fica na parte oriental), no mar do Caribe.
O governo Clinton renovou suas ameaças de invadir o Haiti depois de Jonassaint ter ordenado a expulsão dos funcionários da ONU e da OEA encarregados de fiscalizar o respeito aos direitos humanos.
Clinton tem sido pressionado a fazer uso da força militar para pôr fim às levas de milhares de haitianos que tentam se asilar nos EUA. Ontem, o jornal }The New York Times, o mais influente dos EUA, se opôs à idéia.
Os funcionários da ONU e da OEA deixaram ontem o Haiti a bordo de um avião da Air France, única companhia aérea que ainda opera no país. A Air France anunciou que vai suspender seus vôos ao Haiti em 1º de agosto.
Os corpos de 12 jovens foram encontrados durante a madrugada em Morne-a-Bateau, a 32 km da capital, Porto Príncipe. Diplomatas dos EUA foram ao local tentar investigar a razão do massacre.
Nenhum país, exceto o Vaticano, reconhece o governo de Jonassaint, 80, juiz da Suprema Corte do Haiti escolhido presidente por 13 dos 27 senadores e 30 dos 79 deputados do Congresso haitiano em 11 de maio último.
Antes de Jonassaint, Cedras já havia imposto, em 1991, outro juiz, Joseph Nerrette, como presidente. Mas os dois se desentenderam em julho de 1992, quando o cargo voltou a ficar vago.
Aristide, 41, ex-sacerdote católico de inclinações socialistas, vive no exílio em Washington. Apesar de apoiado pelos EUA, ele é visto com desconfianças por muitas autoridades norte-americanas.
A ONU impôs embargo mundial de combustível e armas ao Haiti em outubro de 1993. Em maio, o embargo foi ampliado para abranger qualquer tipo de comércio com aquele país.

Texto Anterior: Jackson esteve no país, diz governo dominicano
Próximo Texto: Organizações prevêem catástrofe humanitária com fuga de ruandeses
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.